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12° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 OS PECADOS DE OMISSÃO E DE OPRESSÃO


OS PECADOS DE OMISSÃO E DE OPRESSÃO
O amor cristão deve se manifestar em todo e qualquer ambiente que demanda o relacionamento humano. Principalmente nos círculos cristãos. Naturalmente, o amor de Cristo, não é nem pode ser um amor de viés obrigatório, pois amor compelido não é amor verdadeiro. O amor demonstrado por Jesus nos designa a ser um e somente um corpo com Ele. Por isso podemos destacar alguns desdobramentos do amor na relação profissional entre funcionário e patrão.

Enquanto funcionários de uma empresa, nossa real motivação deve ser a do respeito, pois somos chamados a viver numa dimensão de serviço a Deus, mas também aos homens. De sorte, não há como honrar a Deus se a minha dimensão relacional com os homens de autoridade está confusa ou quebrada. É impossível viver um dualismo entre "servir a Deus" e "não servir o próximo".
O discípulo de Jesus é convidado a fazer o bem e a se aperfeiçoar naquilo que faz, não somente por causa do patrão, mas acima de tudo por Cristo. E aí que se revela a própria realização humana, pois patrão e funcionário têm um mesmo Senhor! Não há favoritismo de Deus nessa relação. O mesmo Senhor que auxilia o patrão é o mesmo que auxilia o funcionário. NEle, ambos são irmãos.
Prezado professor, trabalhe estas questões com a classe perguntando o seguinte: Se você é patrão o que pensar sobre o que a Palavra diz a respeito da tua relação com o teu funcionário? E você que é funcionário, como enxergar esta relação com o teu patrão? Certa feita o nosso Senhor disse que o mais forte subjugava o mais fraco no mundo gentílico, e isso, era perfeitamente normal. Mas entre nós, não! Entre os cristãos, o amor mútuo dos irmãos é o que deve sobrepujar. Cada qual exercerá o seu próprio papel, seja na função de patrão ou na de funcionário.
Ambos não podem esquecer: "Sujeitai-vos um ao outro em amor" a qualquer tempo e em qualquer dimensão profissional, seja ou não cristã. Professor lembre a classe de que o que Tiago está condenando em sua epístola é a injustiça, a exploração econômica e toda sorte de males que os ricos deste mundo, crentes ou não, poderiam evitar se assumissem a consciência "de ter fome e sede de justiça" que emana do Evangelho.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.42.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Como destacamos no capítulo 10 deste livro, o apóstolo Tiago chama a atenção de seus leitores, mais especificamente na abertura do capítulo 4, para as consequências trágicas da omissão dos homens mais abastados em cuidar “dos órfãos e das viúvas” (Tg 1.27) assim como dos membros indigentes da sua comunidade (Tg 2.15,16). Tal atitude frisa o apóstolo, estava levando a mortes desnecessárias entre os mais necessitados, de maneira que Tiago sugere que esses homens ricos que pecavam por omissão, que pecavam por não atenderem aos mais carentes, eram, indiretamente, assassinos (Tg 4.3; 5.6). Sim, porque os interesses egoístas dessas pessoas — e que ficará ainda mais evidenciado no caso da diminuição do salário devido aos trabalhadores pobres (Tg 5.4) — estavam levando necessitados à morte. Ao lutarem apenas pelos seus próprios deleites, eles estavam, na prática, mesmo que indiretamente, combatendo contra seus irmãos necessitados, porque sua omissão custava a vida destes. Tratava-se, portanto, de uma omissão criminosa.
Lembremos que a Epístola de Tiago foi escrita, muito provavelmente, durante a grande fome que abateu a Judeia por volta do ano 46 d.C. A data mais provável para a composição da Carta de Tiago é entre 45 e 49 d.C., isto é, exatamente um período que abrange a época dessa grande fome. Logo, quando Tiago viu que a morte de alguns irmãos poderia ser poupada se não fosse a omissão dos mais ricos — ainda mais que os ricos empregadores, motivados apenas por cobiça e egoísmo, estavam em falta no pagamento dos salários dos seus trabalhadores, salário este que, se honrado, supriria minimamente as necessidades destes —, o apóstolo foi tomado de uma ira santa e escreveu as palavras contundentes que abrem o capítulo 5 de sua carta, sobre as quais meditaremos a seguir.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 137-138.
Lc 6.24 Os três versículos seguintes contêm expressões de aflição (os “ais”) que expressam o oposto das “bem-aventuranças” dos versículos anteriores. Embora a maioria das pessoas do mundo veja os bens como desejáveis e um sinal das bênçãos de Deus, Jesus diz o oposto. Provavelmente, Jesus dirigia estes comentários às pessoas em geral. Jesus não menospreza os bens propriamente ditos, mas sim o seu efeito sobre as pessoas. Os bens fazem as pessoas se sentirem autossuficientes e julgarem ter encontrado a felicidade que estavam procurando. Aqueles que escolhem o conforto presente e não o caminho de Deus têm a sua consolação agora. Aqueles que tentam encontrar satisfação por intermédio da riqueza irão descobrir que a riqueza é a única recompensa que terão e que não durará.
Lc 6.25 A palavra fartos se refere àqueles que têm tudo o que este mundo oferece. Nada lhes falta. Os seus bens materiais e a “segurança” financeira os faz pensar que não precisam de Deus. Um dia, entretanto, eles terão fome. Isto pode não acontecer nesta vida, mas eles irão descobrir que na eternidade, quando isto realmente importa, eles serão os que irão sofrer. O Evangelho registra mais adiante uma parábola sobre um homem rico e um pobre que ilustra este mesmo ponto (veja 16.19-31). Praticamente da mesma maneira, aqueles que riem descuidadamente um dia se lamentarão e chorarão por toda a eternidade. Jesus não era contra o riso - na verdade, o riso é uma das maiores dádivas que Deus deu ao seu povo. Jesus estava falando da mesma atitude daqueles que são ricos e satisfeitos nesta vida e reagem com risos superficiais a qualquer menção a Deus ou à eternidade.
Eles irão descobrir que estavam errados, e irão lamentar-se e chorar para sempre.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 360.
Os tormentos (ou os “Ais”) revelam os pecadores prósperos como pessoas infelizes, embora o mundo os inveje. Não tivemos isto em Mateus. Pode parecer que a melhor interpretação desses tormentos comparados com as bênçãos antecedentes seja a parábola do rico e Lázaro. Lázaro tinha a bem-aventurança daqueles que são pobres, que têm fome e que choram, e agora, portanto, no seio de Abraão todas as promessas feitas àqueles que assim viveram, se cumpriram na vida dele. Mas o homem rico teve os tormentos aqui citados uma vez que ele tinha o caráter daqueles a quem esses tormentos são infligidos.
1. Aqui está um “ai” para aqueles que são ricos, isto é, que confiam nas riquezas, que têm abundância da riqueza terrena, e, ao invés de servirem a Deus com ela, servem às suas luxúrias; ai deles, porque já receberam a sua consolação, aquela na qual depositaram a sua felicidade, e desejaram ficar com ela como herança, v. 24.
Eles já receberam seus benefícios em vida, o que, em seu julgamento, eram as melhores coisas, e tudo de melhor que possivelmente poderiam receber de Deus. “Vocês que são ricos são tentados a colocar os seus corações em um mundo sorridente, e a dizer: Alma, descansa’ nos braços dele, ‘Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei’; então, ‘ai de vós’”. (1) E a loucura das pessoas terrenas que fazem das coisas deste mundo - que são concebidas apenas para a sua conveniência - a sua consolação. Satisfazem-se com elas, orgulham- se delas, e fazem delas o seu paraíso na terra; e para elas os consolos de Deus são pequenos e sem importância. (2) A sua miséria consiste em serem despojadas delas, perdendo então a sua consolação. Que saibam, para seu terror, que quando são separadas dessas coisas, existe um final de todo o seu consolo, um derradeiro final, e nada restará para eles a não ser angústia e tormento perpétuos.
2. Eis aqui um “ai” para aqueles que estão fartos (v. 25), cujos corações superabundam em imaginações (SI 73.7), que têm seus ventres preenchidos com os tesouros ocultos deste mundo (SI 17.14), que, quando têm tudo em abundância, acham que têm o suficiente, e pensam: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”, Apocalipse 3.17. “Já estais fartos! Já estais ricos!”, 1 Coríntios 4.8. Eles estão cheios de si mesmos, sem Deus e sem Cristo. Ai dos tais, porque eles terão fome, eles brevemente serão despojados e esvaziados de todas as coisas das quais tanto se orgulham; e, quando deixarem para trás, neste mundo, todas as coisas que são a sua plenitude, eles levarão consigo tais desejos e luxúrias, pois o mundo para o qual vão não satisfará as suas vontades. Porque todos os prazeres dos sentidos, dos quais eles estão repletos agora, no inferno serão negados, e no céu serão substituídos.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 565.
I - O PECADO DE OMISSÃO (Tg 4.17)
1. A realidade do pecado.
I. Definição
No grego é amartia, Esse termo é derivado de uma raiz que indica «errar o alvo», «fracassar». Trata-se do fracasso em não atingir um padrão conhecido, mas antes, desviando-se do mesmo. Essa palavra, porém, veio a ter também um significado geral, indicando o principio e as manifestações de pecado, sem dar qualquer atenção a seu significado original. O trecho de I João 3:4 usa o vocábulo anomia, «desregramento», desvio da verdade conhecida, da retidão moral. O pecado tanto é um ato como é uma condição. É o «estado» dos homens sem regeneração, que se manifesta na forma de numerosos e perversos atos. Pecar é afastar-se daquilo que Deus considera a «conduta ideal», do homem ideal, exemplificado em Jesus Cristo. Isso conduz à «impiedade» que consiste na oposição a Deus e a seus princípios, em autêntica rebelião da alma. E isso leva à «parabasis», «transgressão» contra princípios piedosos reconhecidos. Isso leva o individuo à «paranomia.., a «quebra da lei», o «afastamento» da lei moral (ver Atos 23:3 e II Pede ?:16)__ Nossos pecados também são «passos em falso», Isto e, «paraptoma-, no grego (ver Mat, 6:14 e Efé. 2). Propositadamente «caímos para um lado», «desviamo-nos pela tangente», apesar de estarmos instruídos o bastante para não fazê-lo.
Desse modo, o N.T. descreve o «pecado» sob boa variedade de modos, cada um dele com uso de um quadro falado sobre o que isso significa. Cristo Jesus é a cura de cada uma dessas manifestações do pecado, pois a sua expiação apaga a divida; e a santificação em Cristo transforma o pecador, para que seja um ser santo e celestial. E Deus é fiel e justo, conferindo esse imenso beneficio aos homens que se submetem a ele, isto é, que exercem fé em Cristo e ao seu mundo eterno (ver Heb. 11:1).
II Como transgressão da Lei(I Joio 3:4)
O pecado é a transgressão da lei. O autor sagrado oferece-nos uma definição possível de «pecado», bastante lata, mas não a única possível. O pecado pode ser praticado por «omissão» (ver Tia. 4: 17); e os pagãos, que não tinham lei - no sentido de uma legislação divinamente dada mesmo assim pecavam (ver o segundo capítulo da epístola aos Romanos). A «lei», neste caso, certamente é a «lei mosaica», e não a nova lei do Espírito, revelada no evangelho. Horém, apesar de poderem ser dadas outras definições de pecado, o autor sagrado não estava interessado em qualquer delineamento completo do que pode ser o pecado. Para o seu argumento, bastava que o chamasse de «transgressão da lei». O «desregramento» dos gnósticos era ato condenado peremptoriamente na legislação mosaica, pelo que o conceito de pecado como «transgressão da lei» servia de instrumento adequado para ser usado contra os falsos mestres. E possível que essa definição de pecado tenha sido escolhida porque os mestres gnósticos negavam a autoridade do A.T. O autor afirma, por conseguinte, a. despeito do que os gnósticos asseveravam em contrário, que a lei de Deus, revelada no A.T., os condenava. Os gnósticos desconsideravam o sétimo mandamento, além de outros similares.
Julgavam-se acima da lei. No entanto, a lei os condenava. -É como se então o autor advertisse a seus leitores: «Cuidai para que não sejais numerados entre eles. Corinto deve ser confrontado com Moisés".
«A gravidade do pecado ou de atos pecaminosos é salientada pela identificação dos mesmos com o 'desregramento'. termo que parece indicar o pecado em toda a sua enormidade e blasfêmia, a julgar pela caracterização do anticristo, em 11 Tes. 2:7,8, como o 'iníquo' , e suas atividades como o 'mistério da iniquidade'. O trecho de Mat. 24:12 também cita o aumento da iniquidade como um dos sinais da tribulação messiânica. Os cismáticos iluminados e jubilosos talvez dessem excessiva importância ao fato de que não estavam acima de toda a lei, sem apreciarem que não estavam 'sem lei para com Deus, mas sob a lei de Cristo' (I Cor. 9:21). Irineu aludiu aos hereges, que supunham que 'devido à nobreza de sua natureza, em grau algum podiam contrair polução, sem importar o que comessem ou fizessem' (Contra Heresias, 11. 14:5); e em outra oportunidade fala daqueles para quem o bem e o mal são apenas questões de opinião humana (op. cit., 11.32.1) ».
III A Natureza do Pecado.
1. O pecado é cósmico em sua natureza. Nenhum ser humano peca sozinho. O pecado sempre fará parte de uma rebelião cósmica contra Deus e contra a retidão. I João 3:8 enfaticamente assevera que aquele que «pratica o pecado" é do diabo. Esse ser maligno é intitulado «o deus deste mundo» (ver 11 Cor. 4:4), e muitos são seus súditos e escravos. Será necessária uma providência cósmica para remover o pecado, e o julgamento tomará conta disso.
2. Mas o pecado também é pessoal. Embora as forças satânicas forneçam a agitação (ver Efé. 6:11 e 55), o individuo é responsável pelas suas ações, e, portanto, ele é convocado a arrepender-se. O homem não pode alterar o quadro cósmico, mas pode ser pessoalmente redimido. (Ver o artigo sobre o Arrependimento).
3. Sem importar se cósmico ou pessoal, o fato é que o pecado é, definidamente, uma questão de rebeldia.
O pecado tem por escopo destruir uma alma eterna (ver I Pe'd. 2:1). O pecado é algo muito mais sério do que aquilo que gostamos de pensar a seu respeito.
4. Foi preciso a missão de Cristo para dar solução ao problema do pecado (ver Rom. 5: 1; CoI. 1:20 e Efé. 1:10).
IV. Como é que Todos Pecaram Rom. 5: 12
1. Alguns intérpretes dizem: «Em Adão.. isto é. todos os homens participaram, em Adão, do pecado original, e contra esse pecado é que o juízo foi proferido. Essa ideia é frisada por causa da analogia com o ato isolado de justiça que nos outorgou a justificação. A expiação de Cristo foi exatamente esse ato, mediante o qual somos justificados, e não mediante inúmeros atos de justiça que porventura pratiquemos. Por semelhante modo, somos julgados por causa de um único ato - o pecado de Adão – do qual todos participamos. Há evidências rabínicas em favor dessa ideia.
2. Outros afirmam que Rom. 5:12 fala de pecados individuais (e essa opinião é esposada pela maioria dos intérpretes). Também há evidências rabínicas quanto a esse ponto de vista.
3. Talvez seja melhor misturar esses dois pontos de vista. O homem nasce com o pecado original. Ele pecou em Adão. Mas cada individuo também tem seu próprio pecado. E ambas as modalidades o condenam. Isso está em consonância com os princípios ensinados em Romanos 2:6, o de que cada um será finalmente julgado de acordo com suas próprias obras. O pecado de Adão é a raiz; os pecados da humanidade são os ramos; e os pecados individuais são os frutos. A 'sentença de julgamento recai sobre a árvore inteira, e não apenas sobre uma parte da mesma.
Como ilustração do que Paulo procurava dizer aqui, podemos usar uma árvore, com suas raízes, com seu desenvolvimento acima do solo e com seus frutos. A realidade de tudo quanto uma árvore é, se origina de suas raízes. Uma árvore, entretanto, é bem mais do que apenas as suas raízes; pois também consiste no grande tronco que se eleva da superfície do chão.
Também inclui até mesmo os seus frutos. Ora, outro tanto sucede no caso do pecado. A raiz é o pecado de Adão, e o juízo divino foi pronunciado contra a raiz. Mas o pecado também desenvolveu o seu tronco, visível para todos, o que representa O' principio do pecado, que opera neste mundo. Finalmente, o pecado tem os seus frutos, o que significa os atos individuais de todos os homens. Ora, tais atos também produzem o julgamento, determinando a intensidade do mesmo, porquanto a declaração bíblica, frequentemente repetida, é que os homens serão julgados de acordo com as suas obras. Portanto, para dizermos toda a verdade, o pronunciamento original do julgamento foi contra a transgressão de Adão, de cujo julgamento todos os homens são apresentados como participantes.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 145-146.
PECADO
Definição
A maioria das definições de pecado é excessivamente restrita. Por exemplo, uma definição usual, a de que o pecado é o egoísmo, significaria que um pai que rouba comida para uma criança faminta não estaria cometendo pecado. O pecado é iniquidade, diz 1 João 3.4, mas normalmente isto é interpretado em um sentido muito limitado. A lei contra a qual se estima o pecado não é simplesmente a lei mosaica, mas sim toda e qualquer revelação de Deus durante todos os tempos. Isto inclui os mandamentos específicos da Bíblia (tanto os negativos quanto os positivos), os princípios bíblicos de conduta (por exemplo, 1 Co 10.31) e leis que não se mencionam especificamente na Bíblia Sagrada, mas que podem ser consideradas diretrizes dadas pelos líderes indicados por Deus (por exemplo, Hb 13.17; Ef 6.1). Portanto, o pecado não é somente alguma coisa contrária ao que Deus disse que o homem não deveria fazer, mas é também algo contrário ao que Deus não quer que o homem faça, com base nos princípios revelados. Dessa forma, uma definição completa e inclusiva do pecado seria: o pecado é tudo o que é contrário ao caráter de Deus. Como a glória de Deus é a revelação do seu caráter, o pecado é uma insuficiência do homem em relação à glória ou ao caráter de Deus (Rm 3.23).
Os teólogos da Reforma ressaltam que o caráter de Deus está revelado na lei de Deus. Eles ensinam que isto é apresentado tanto positivamente, e de uma maneira geral nos Dez Mandamentos, que ordenam o amor a Deus e o amor aos homens (cf. Rm 13.8-10); e negativamente (exceto para o quarto e o quinto mandamento) em uma forma mais específica nas oito proibições contidas nas duas tábuas da lei. Com base nisto é que o catecismo curto de Westminster define o pecado como "não querer conformar-se a, ou transgredir, a lei de Deus". No Sermão do monte, o Senhor Jesus Cristo estabelece as duas promulgações da lei, a negativa e a positiva, como a base da vida cristã e o padrão da semelhança que Deus deseja para seus filhos (Mt 5.17,21,22,27,28,43-48);
A Origem do Pecado
Em nenhum lugar foi dito que Deus é o autor, ou o criador responsável pelo pecado. Ele não tenta a ninguém para fazer o mal (Tg 1.13). Quando Deus diz: "Eu... crio o mal" (Is 45.7) Ele está falando de desgraças ou de calamidades. Não é aceitável nenhum ponto de vista em que de alguma maneira se faça Deus o autor do pecado, mesmo no sentido de que Ele é incapaz de evitar sua ocorrência ou aparição.
A visão de Barth é, portanto, inaceitável quando ele fala de Deus pensando em todos os mundos possíveis, o bom, o mau e o indiferente, e então levando os mundos mau e indiferente ao mais longínquo ponto de existência e excluindo-os pelo poder infinito do Senhor. Eles formam o caos, Das Nichtige, que pressiona o pobre e finito homem quando ele
vem ao mundo. O homem finito tenta manter Das Nichtige expulso ou afastado pelos seus próprios meios, e consequentemente ocorrem pecados e quedas. Essa visão equivocada transforma Deus no criador do caos ou em um Deus incapaz de criar sem criar o mal. Ao invés disso, a Bíblia indica que o pecado originou-se em Satanás, em sua rebelião contra Deus. Tudo o que o Antigo Testamento dá a entender sobre a responsabilidade de Satanás é que "se achou iniquidade" no rei de Tiro (Ez 28.15), uma evidente alusão ao diabo. Em seu orgulho, ele tentou tornar-se semelhante ao Altíssimo (Is 14.12-14; cf. 1 Tm 3.6). Na experiência humana, o pecado qriginou-se na tentação de Adão e Eva no Éden, quando eles rebelaram-se contra Deus ao dar ouvidos à voz de Satanás (Gn 3.1-6).
0 efeito do pecado de Adão na vida moral dos seus descendentes é o problema envolvido no chamado "pecado original" e é o tema de diferentes pontos de vista.
A Extensão do Pecado
Os calvinistas afirmam que o pecado de Adão foi imediatamente imputado sobre toda a raça humana, com o resultado de que não somente toda a família humana perverteu-se como também é culpada do pecado de Adão por participação (Rm 5.12). A visão arminiana declara que o efeito primário do pecado de Adão sobre a raça humana foi o de dar ao homem uma tendência ao pecado sem implicar em culpa. A visão pelagiana atribui uma bondade inerente ao homem, que abre a este a possibilidade de viver em um estado livre do pecado, se assim o desejar. No entanto, a Bíblia ensina o fato e a universalidade do pecado (1 Rs 8.46; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.23; 5.13,19; Ef 2.1-3; Tg 3.2;
1 Jo 1.8,10). Isto é o que significa a depravação total ou a total incapacidade - a falta de mérito do homem aos olhos de Deus. O termo depravação refere-se à corrupção ou contaminação da natureza humana como resultado do pecado de Adão. Segundo o catecismo curto de Westminster, o pecado de Adão e Eva consiste tanto da culpa do primeiro pecado de Adão quanto da consequente corrupção de toda a sua natureza.
A depravação total está relacionada com a penetração da maldade no homem, e em tudo o que ele faz, resultando na impossibilidade por parte do homem de realizar o que é verdadeiramente e espiritualmente bom aos olhos do santíssimo Deus. No entanto, isto não significa que o homem seja totalmente mau, de qualquer modo, e que ele não consiga fazer boas coisas. Ele pode admirar e imitar muitas coisas que são nobres e realizar o bem, como atos de justiça civil e social. Mas todo esse bem não tem a capacidade de obter os favores de Deus. O homem é incapaz de agir com motivos com pletamente isentos de egoísmo, somente para glorificar seu Criador, e em seu estado de pecado ele é totalmente incapaz de reconciliar-se com o justo Governante do universo.
Esta doutrina apoia-se sobre afirmações claras da Bíblia Sagrada. Em Génesis 6.5 está declarado que "viu o Senhor que a maldade do homem multiplicara-se sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente", e Génesis 8.21 complementa: "porque a imaginação do coração do homem é má desde sua meninice". Estes versículos revelam a natureza interior do pecado do homem - no "coração"; sua constância - "continuamente"; sua abrangência - só "má"; e sua totalidade -toda a "imaginação". Isaías confessa que todas as nossas boas obras são como trapo da imundícia (64.6), ensinando que o homem não consegue realizar nenhuma boa obra que seja realmente aceitável aos olhos de Deus. O homem tem a tendência de pecar desde seu nascimento, desde o momento da concepção (Salmos 5.15) e seu "coração" (sua natureza interior) é mais enganosa e trapaceira do que qualquer outra coisa, e é desesperadamente corrupta, incuravelmente enferma (Jr 17.9).
Em Romanos, Paulo dedica a primeira parte (1.18-3.20) à prova das proposições de que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (3.23). Ele argumenta que os pagãos não têm desculpa (1.18-32), o homem moral e justo permanece condenado por causa da desobediência à sua consciência (2.1-16) e os judeus religiosos infringem todas as leis escritas de que eles se vangloriam (2.17-3.8). O apóstolo conclui que todos são completamente depravados, porque nenhum é justo, nenhum faz o bem, são todos inúteis e os membros dos seus corpos são instrumentos da iniquidade (3.9-20). João conclui que o mundo inteiro, exceto os filhos regenerados de Deus, permanecem (impotentes) sob o poder do maligno (1 Jo 5.19).
Terminologia
São inúmeros os termos que denotam o pecado e o mal em hebraico. Na verdade, existem mais palavras para o mal do que para o bem. Há pelo menos oito palavras básicas: (1) Heb. ra', "terrível" ou "temível" (Gn 28.17), "mau", é usada para denotar alguma coisa nociva ou prejudicial e não se restringe a coisas moralmente más. (2) Heb. rasha', "maldade" (Êx 2.13), que é sempre usada no sentido de uma culpa moral resultante da confusão de uma vida sem regras. (3) Heb. 'asham, "culpa" (Gn 26.10), quase sempre limitada ao ritual relacionado com o Tabernáculo e com o Templo em Levítico, Números e Ezequiel. (4) Heb. hata', hattat (Êx 20.20), que literalmente significa "errar o caminho", "errar o alvo" (Jz 20.16; Jó 5.24; Pv 8.36), e inclui o conceito de cometer um erro deliberadamente - e não simplesmente um engano inocente. (5) Heb. 'awon, "iniquidade" (1 Sm 3.13), que frequentemente significa "culpa", estando os dois conceitos - de iniquidade e de culpa - intimamente relacionados. Tem a conotação de desonestidade, ou de afastar-se intencionalmente do caminho correto da justiça de Deus. (6) Heb. shagag, shaga, "errar" (Is 28.7), quando usado em relação à lei, claramente implica que o pecador, na sua ignorância, é responsável por conhecer a lei (Lv 5.18; cf. 4.3,13). (7) Heb. ía'o, "andar errado"(Ez 48.11), indica que o erro é sempre deliberado e não acidental. (8) Heb. pasha', "rebelar-se" (2 Rs 3.5,7; Is 1.2), que é normalmente traduzido como "prevaricar" (1 Rs 8.50; Jr 2.8,29). O uso dessas palavras conduz a algumas conclusões relativas à doutrina do pecado como revelada no Antigo Testamento: (1) A ideia de pecado é a de algo que é fundamentalmente uma desobediência a Deus. (2) Embora a desobediência envolva tanto aspectos positivos quanto negativos, a ênfase está definitivamente na aceitação positiva do mal e não simplesmente na omissão negativa do bem. Em outras palavras, o pecado não é simplesmente errar o alvo (como tantas vezes é definido), mas sim atingir o alvo errado deliberadamente, e com conhecimento. (3) O pecado toma formas variadas, e os israelitas tinham pleno conhecimento da forma particular que seu pecado tomava, pela disponibilidade de tantas palavras variadas.
0 Novo Testamento usa 13 palavras básicas para descrever o pecado: (1) Gr. kakos, "mau" (Rm 13.3), denota o mal moral, embora em algumas ocasiões seja usada para denotar o mal físico. (2) Gr. poneros "iniquidade" (Mt 5.45), que com duas exceções é usada referindo-se à iniquidade moral. (3) Gr. asebes, "impiedoso" (Rm 1.18), que é o oposto de ensebes, "piedoso", e, frequentemente, aparece com outras palavras para pecado como em
1 Timóteo 1.9. (4) Gr. enochos, "culpado" (Tg 2.10; Mt 26.66), normalmente denota uma culpa que é merecedora da morte. (5) Gr. hamartia, "prostituição" ou "impureza" (1 Co 6.13), qualquer afastamento do caminho da justiça; é a palavra mais abrangente para pecado. (6) Gr. adikia, "injustiça" (1 Co 6.9), significa qualquer comportamento injusto no sentido mais amplo. (7) Gr. anomos, "transgressor" (1 Tm 1.9), que significa o desrespeito à lei, algumas vezes traduzida como iniquidade. (8) Gr. parabates, "transgressor" (Tg 2.9,11), normalmente refere-se à transgressão da lei mosaica e sempre a alguma lei específica. (9) Gr. agnoeo, "ser ignorante", algumas vezes usada para descrever a ignorância inocente (Rm 1.13), e algumas vezes a ignorância culpável (Rm 10.3; Ef 4.18). (10) Gr. planao, "desviar-se" (1 Pe 2.25), que sempre significa errar com culpa ou ser enganado (por exemplo, Tt 3.3), com a possível exceção de Tiago 5.19. (11) Gr. paraptoma, "uma ofensa" (Gl 6.1), que na maior parte das referências é uma transgressão deliberada. (12) Gr. hypocrites, "hipocrisia" (1 Tm 4.2). (13) Gr. parapipto, "recair" ou "desviar-se" (Hb 6.6), que implica uma deliberada apostasia (q.v.). Algumas conclusões podem ser obtidas a partir do uso dessas palavras, com respeito à doutrina do pecado no Novo Testamento: (1) Sempre existe um padrão claro, contra o qual se comete o pecado. (2) Em última análise, qualquer pecado é uma rebelião contra Deus e uma transgressão dos seus padrões.
(3) O mal pode assumir múltiplas formas.
(4) A responsabilidade do homem é definida e claramente compreendida.
Punição e Remédio
A Bíblia Sagrada afirma que a punição do pecado é a morte - tanto física quanto espiritual (Ez 18.4,20; Rm 5.12; 6.16,21,23; Tg 1.15). Depois do pecado, Adão e Eva acabaram morrendo fisicamente (Gn 2.17; 3.19), mas eles imediatamente viveram a morte espiritual, a separação de Deus (Gn 3.8-10; cf. Ef 2.1,5,12; 4.18). Veja Morte. O remédio para o pecado consta de duas partes: (1) o perdão (q.v.), que apaga a culpa do pecado; e, (2) a justificação (q.v.) que é uma declaração da justiça positiva imputada por Deus sobre o crente. Tudo isto se baseia na obra de Cristo, em sua morte expiatória (Rm 3.24-26), e é assegurado pela fé nele.
O pecado nunca será erradicado do crente nesta vida (1 Jo 1.8-10); O Espírito Santo é dado para que o crente possa impedir que o pecado reine em seu corpo (Rm 6.1-13; 8.1-4). Seus inimigos, no entanto, são poderosos e persistentes. As tentações deste mundo, o Diabo e a carne somente podem ser enfrentados através da utilização da provisão de Deus (Gl 5.16,24; Ef 6.10ss.). O pecado persistente na vida do cristão traz o castigo (Hb 12.6) e algumas vezes a morte física (1 Co 11.30), mas nunca a separação total de Deus e a morte espiritual. A intercessão de Cristo garante a segurança da salvação do crente (Hb 7.25; 1 Jo 2.1), embora seja necessária a confissão para a restauração da comunhão (1 Jo 1.9). As recompensas podem ser perdidas se a comunhão não for mantida (1 Co 3.15). Para o pecado imperdoável, veja Espírito Santo, Pecado Contra o. Veja Impiedade; Queda do Homem; Iniquidade; Julgamento; Transgressão; Maldade.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1484-1487.
2. O pecado de comissão (Gn 3.17-19).
Foi estabelecida uma limitação. O homem ainda não estava pronto para todo e qualquer tipo de conhecimento, especificamente naquela ocasião, o conheci- mento do bem e do mal. A árvore proibida proveu o homem com a oportunidade de agir livremente com bons intuitos e com justiça. Ele ainda não havia testado 0 seu livre-arbítrio. Tudo fora providenciado para ele. Mas certas coisas tinham sido proibidas. Mesmo em seu estado de impecabilidade e inocência, não dispunha de recursos interiores que lhe permitissem passar no teste.
Deus forçou uma tentação que, segundo Ele sabia, não poderia ser enfrenta- da com sucesso pelo homem, pelo que ele permitiu (ou causou) que entrasse no paraíso terrestre, Isso levanta difíceis indagações teológicas que abordo no artigo acima mencionado. É claro que supomos que a queda dos anjos já tivera lugar, pelo que a queda do homem foi apenas uma extensão daquela rebelião angelical. Só nos resta pensar que para Deus havia algo mais importante do que preservar o estado de impecabilidade do homem. Esse algo por certo era a redenção e a salvação. É mister que o homem seja levado à plena participação da imagem de Deus. Isso só pode ser realizado se o pecado for enfrentado, se o homem cair no pecado, se o homem for redimido do pecado, para então ser transformado segundo a imagem de Deus, no seu sentido mais pleno e literal. Após levarmos em conta essas coisas, nem assim teremos resolvido os problemas teológicos envolvidos. O que poderia ser dito eu já disse no artigo acima referido.
Gn 2.16 De toda árvore. Presumivelmente, até da árvore da vida, que teria garanti- do ao homem a imortalidade. A capacidade de previsão de Deus, todavia, não O levou a "temer" essa finalidade. Ele sabia que 0 homem cairia e se tornaria um ser mortal. Logo, a imortalidade seria provida por meio da salvação, mediante a transformação da alma, e não através de uma eterna preservação do corpo físico.
E lhe deu esta ordem. No hebraico temos o verbo sawah, o primeiro uso bíblico do termo, assinalando 0 primeiro mandamento dado por Deus ao homem. Dizia respeito à vida e à morte, ao bem e ao mal, ao uso apropriado do livre- arbítrio. Esse mandamento de Deus acabou por desdobrar-se na Lei, e então na doutrina de Cristo, onde o amor é o mandamento supremo e todo-controlador. Deus tem autoridade. Ele ordena. Mas tudo visa sempre ao bem do homem. Seus decretos não são destrutivos, a menos que o homem os force a serem assim. Os mandamentos de Deus são específicos e diretos. Ao homem foi conferida a iluminação apropriada para que tivesse uma boa conduta.
Gn 2.17 Esta seção provê a resposta do autor sacro sobre como o mal teve início. Muitos estudiosos têm-se sentido infelizes diante da simplicidade e da aparente ingenuidade da questão toda. O pecado realmente entrou desse modo no gênero humano? Os antropólogos pensam que o pecado e a má conduta do homem se devem à sua herança animal. A civilização seria um meio para melhorar o homem selvagem, o qual é selvagem devido à sua herança animal. O livro de Gênesis oferece razões espirituais para a corrupção humana, e assim prepara-nos para compreender melhor as operações espirituais da redenção.
Árvore do conhecimento. Os críticos veem aqui um pouco de mitologia. Alguns eruditos conservadores aceitam a passagem alegoricamente, Mas outros insistem sobre o caráter literal da árvore, embora não façam nenhuma sugestão lógica de por que, ao comer daquele fruto, o homem poderia receber conhecimento. Não nos devemos deter em debates, perdendo assim de vista os claros ensinamentos espirituais do trecho. Nenhum paraíso está isento de seus problemas ou complicações. O pecado agachava-se, ameaçador, mesmo quando o homem era inocente. Sempre haverá testes. O mal é real, e não relativo. O homem caiu no pecado da maneira mais ignorante e estúpida. Sem embargo, aquilo foi uma necessidade, de uma maneira que não podemos entender, a fim de que a redenção e a salvação pudessem ser outorgadas, levando-nos muito além do estado original de inocência. Desse modo, chegamos a compartilhar da imagem de Deus, por meio de Cristo, o qual é o nosso Irmão mais velho. Certamente morrerás. Os eruditos cristãos veem aqui tanto a morte física quanto a espiritual, ambas as coisas efeitos da queda no pecado. Alguns intérpretes supõem que só a morte física está em pauta, visto que o autor sacro não antecipava a doutrina da alma — a única entidade passível de morte espiritual. Ver meus comentários sobre essa questão em Gên. 1.26,27 e 2.7. Tem sido motivo de debate até que ponto a imagem de Deus foi desfigurada no homem por causa da queda. Comento sobre esse ponto no artigo sobre a Imagem de Deus, o Homem Como, que aparece no fim dos comentários sobre Gên. 1.26.
Será Justo? Os comentadores debatem-se diante da presença dessa árvore no paraíso. Ela estava ali a fim de que seu fruto pudesse ser desejado. Mas ao homem foi proibido participar do mesmo. Alguns intérpretes caem no erro do Voiuntarismo (ver 0 artigo a respeito no Dicionário). Esse erro ensina que uma coisa é boa porque assim Deus quer, e não por ser ela inerentemente boa. Deus proibiu; ao homem cabia obedecer cegamente. Mas outros alegorizam a questão, vendo ai uma inevitável tentação ao pecado, que Deus permitiu a fim de submeter a teste as qualidades espirituais do homem. Testar é algo necessário a fim de comprovar a força, falando-se física e espiritualmente. Testar também é necessário para desenvolver habilidades e para 0 crescimento.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 27.
A Ordem que Fixou Limites (2.15-17)
Quando Deus colocou o homem no jardim (15), Ele lhe deu duas tarefas: para lavrá-lo e o guardar. Em contexto agrícola, lavrar significa cultivar, ação que inclui o ato de podar videiras.
Quando ordenou o SENHOR Deus ao homem (16), Ele deixou claro sua relação soberana com o homem e a relação subordinada do homem com Ele. Deus tinha este direito, porque Ele é o Criador e o homem é a criatura.
Para expressar proibição, aqui é empregada a maneira mais forte possível em hebraico para colocar a árvore da ciência do bem e do mal (17) fora da alçada do homem. Visto que o discurso direto é inerentemente pessoal, a ordem: Não comerás, é pessoal e a qualidade do negativo hebraico a coloca em negação permanente. A importância da ordem é aumentada pela severidade do castigo. Isto é muito forte na sintaxe hebraica, sendo que a força é um tanto quanto mantida na tradução com a palavra certamente.
George Herbert Livingston, B.D., Ph.D. Comentário Bíblico Beacon Vol. 1 Gênesis a Deuteronômio. pag. 37-38.
I - A autoridade de Deus sobre o homem, como uma criatura que tinha razão e liberdade de decisão. O Senhor Deus ordenava que o homem, que agora era uma pessoa pública, o pai e representante de toda a humanidade, recebesse a lei, assim como tinha recentemente recebido uma natureza, para si mesmo e para todos os seus. Deus ordenava a todas as criaturas, de acordo com a sua capacidade. O curso definido da natureza é uma lei, Salmos 148.6; 104.9. As feras têm seus respectivos instintos, mas o homem foi criado capaz de desempenhar um serviço racional, e portanto recebeu, não somente as ordens de um Criador, mas as ordens de um Príncipe e um Mestre. Embora Adão fosse um homem grandioso, um homem muito bom e um homem muito feliz, ainda assim o Senhor Deus lhe deu ordens. E o mandamento não representou nenhum menosprezo à sua grandeza, nem reprovação à sua bondade, nem alguma diminuição - de alguma forma - à sua felicidade. Devemos reconhecer o direito que Deus tem de nos governar, e de que nossas próprias obrigações sejam governadas por Ele. E nunca permitir que nenhuma vontade própria nossa entre em contradição ou em competição com a santa vontade de Deus.
II - A declaração particular desta autoridade, ao prescrever ao homem o que ele deveria fazer, e em que termos deveria estar com o seu Criador. Aqui temos: 1. Uma confirmação da sua atual liberdade, com a concessão. “De toda árvore do jardim comerás livremente”. Isto era não somente uma concessão de liberdade a ele, de tomar os deliciosos frutos do paraíso como recompensa pelos seus cuidados e esforços para lavrá-lo e guardá-lo (1 Co 9.7,10), mas, além disto, uma garantia de vida para ele, vida imortal, desde que houvesse a sua obediência. Pois, estando a árvore da vida colocada no meio do jardim (v. 9), como o seu coração e a sua alma, Deus a visava particularmente com esta concessão. E, por isto, quando, depois da sua rebelião, esta concessão é cancelada, não se sabe de nenhuma outra árvore do jardim sendo proibida a ele, exceto a árvore da vida (cap. 3.22), da qual está escrito que ele poderia ter comido e vivido eternamente, isto é, nunca ter morrido, nem perdido jamais a sua felicidade. “Permaneça santo como você é, em conformidade com a vontade do seu Criador, e permanecerá feliz como é, desfrutando do favor do seu Criador, seja neste paraíso ou em outro melhor”. Assim, mediante a condição da obediência pessoal perfeita e perpétua, Adão teria assegurado o paraíso a si mesmo e aos seus herdeiros, para sempre.
2. Um teste à sua obediência, com a dor da perda de toda a sua felicidade: Mas da outra árvore, que está muito próxima à árvore da vida (pois está escrito que ambas estão no meio do jardim), e que é chamada de árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás. Porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Como se Ele tivesse dito: “Saiba, Adão, que agora você depende do seu próprio bom comportamento, você foi colocado no paraíso em teste. Seja submisso, seja obediente, e viverá para sempre. Caso contrário, você será tão infeliz como agora é feliz”. Aqui:
(1) Adão é ameaçado com a morte, em caso de desobediência: “Certamente morrerás” - o que denota uma sentença segura e terrível, da mesma forma como, na primeira parte deste concerto, “Comerás” indica uma concessão livre e plena. Observe que: [1] Até mesmo Adão, em inocência, foi intimidado com uma ameaça. O medo é um dos instrumentos da alma, pelo qual ela é dominada e controlada. Se até ele, então, precisou desta barreira, muito mais precisamos nós, agora. [2] A punição contida na ameaça é a morte: “Morrerás”, isto é: A árvore da vida lhe será proibida, junto com todo o bem que ela representa, junto com toda a felicidade que você tem, seja em posses ou em expectativas. E você ficará sujeito à morte, e a todas as misérias que a antecipam e acompanham. [3] Isto foi ameaçado como a consequência imediata do pecado: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”, isto é: “Você se tornará mortal, e passível de morrer. A concessão da imortalidade será revogada, e aquela defesa será removida de você. Você se tornará odioso até à morte, como um malfeitor condenado que está morto na lei” (Adão só recebeu um indulto porque deveria ser a raiz da humanidade). “Na verdade, os arautos e precursores da morte imediatamente o dominarão, e a sua vida, a partir de então, será uma rida agonizante: e isto, certamente; é uma regra definida, pois: A alma que pecar, essa morrerá’”.
(2) Adão é tentado com um mandamento positivo: não comer o fruto da árvore da ciência. Agora, era muito adequado testar a sua obediência com um mandamento como este: [1] Porque a razão deste mandamento se originava puramente na vontade do Legislador. Adão tinha, na sua natureza, uma aversão àquilo que era mau por si só, e, portanto, ele só é tentado em algo que era mau porque era proibido. E, sendo uma questão pequena, era mais adequada para testar a sua obediência. [2] Porque esta restrição está colocada sobre os desejos da carne e da mente, que, na natureza corrupta do homem, são as duas grandes fontes de pecado. Esta proibição controlava tanto o seu apetite aos deleites sensoriais quanto a sua ambição de conhecimento curioso, para que o seu corpo pudesse ser governado pela sua alma, e a sua alma, pelo seu Deus.
O homem tinha toda esta tranquilidade e felicidade no estado de inocência, tendo tudo o que o coração pudesse desejar para torná-lo tranquilo e feliz. Como Deus foi bom para ele! Quantos favores Ele acumulou sobre ele! Como eram fáceis as regras que Ele lhe deu! Como era generoso o concerto que Ele fez com o homem! Ainda assim, o homem, uma criatura com honra, não compreendeu os seus próprios interesses, mas logo se tornou como os animais que perecem.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 15-16.
3. O pecado de omissão (Tg 4.17).
O capítulo 4 da Epístola de Tiago termina com uma frase que bem poderia abrir o capítulo 5, mas o francês Robert D’Eti-énne (1503-1559), responsável pela divisão do Novo Testamento em versículos, não atentou para isso, preferindo colocar a referida A primeira é que, diferentemente do que normalmente as pessoas imaginam, os pecados de omissão serão julgados por Deus tanto quanto os demais pecados cometidos. Como afirma Matthew Henry, “aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não deve fazer serão condenados”.
Em segundo lugar, a partir do contexto desse enunciado do apóstolo Tiago, entendemos que ele está afirmando aqui também que “pecados de omissão podem facilmente se tornar pecados de comissão”.2 Ou seja, além de ser um mal em si mesmo, o pecado de omitir-se deliberadamente ainda pode ser praticado de forma a colaborar conscientemente para outros males, de maneira que ele é, nesses casos, também um pecado de comissão.
frase ao final do texto sobre a falibilidade dos projetos humanos (Tg4.13-16). Diz Tiago ao final desta passagem: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17). Não que essa frase não possa ter alguma relação com o tema da falibilidade dos projetos humanos, mas ele está mais relacionado com o tema que vem a seguir. Antes, porém, de adentrarmos no tema dos versículos 1 a 6 do capítulo 5, é preciso destacar algumas lições que estão implícitas no enunciado do apóstolo sobre o pecado de omissão.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 138-139.
Tg 4.17 Somos ensinados a viver à altura das nossas convicções em toda a nossa conduta, e, não importa se estamos tratando com Deus ou os homens, que nos empenhemos em nunca agir contra o nosso próprio conhecimento (v. 17): “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”. E o pecado agravado; é pecado com testemunha; e significa ter a pior testemunha contra a sua própria consciência. Observe: 1. Isso está imediatamente conectado com a lição clara de dizer: “Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo”. Eles talvez estejam dispostos a dizer: “Isso é uma coisa muito óbvia; quem não sabe que todos dependemos do Deus Todo-poderoso para viver, para respirar e para todas as coisas?”. Se você de fato sabe isso, então sempre que você agir de forma contrária a essa dependência, lembre-se disto:
“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”, o pecado maior.
2. Os pecados de omissão serão julgados, assim como os pecados cometidos. Aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não deve fazer serão condenados. Que então nos empenhemos para que a consciência seja corretamente informada, e que então seja fiel e continuamente obedecida. Pois, “...se o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus” (1 Jo 3.21); mas se “...dizeis: Vemos (e não agimos de acordo com nossa vista), por isso, o vosso pecado permanece” (Jo 9.41).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 846.
Tg 4:17 A fim de resumir seu pensamento, Tiago acrescenta um provérbio conclusivo que alguns supõem poderia ter sido um ensino de Jesus, por causa do tom e do tema: Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado. Aparentemente, apenas reprova o pecado da omissão: Quando uma pessoa sabe o que deveria fazer (e.g., dar algo a um pobre), mas negligencia esse ato de caridade, não desperdiçou apenas uma oportunidade de obedecer — tal pessoa pecou. No entanto, o contexto levanta esse ensino da arena da verdade genérica e coloca-o nas vidas desses negociantes. Há claramente algo que eles “sabem” que “devem” fazer e pelo que são responsáveis (Lucas 12:47-48), que é obedecer a Deus e segui-lo nos negócios. Entretanto, seus interesses comerciais com frequência os induzem a planejar segundo os padrões do mundo, e a acumular bens, à semelhança do rico louco (Lucas 12:13-21). Nas Escrituras, fazer o bem frequentemente é praticar atos de caridade (Tiago 1:21-25 e Gálatas 6:9). Portanto, Tiago pode estar sugerindo que eles planejam segundo o mundo porque são motivados pelo mundo, visto que Deus tem seu próprio modo de investir dinheiro: dá-lo aos pobres (Mateus 6:19-21). Se levassem a Deus em consideração, não estariam, com certeza, tentando melhorar seu padrão de vida; Deus os conduziria ao alívio dos que sofrem ao seu redor, isto é, a fazer o bem.
Tendo falado a cristãos cujos corações estavam sendo seduzidos pelo mundo, Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Tiago os condena sem rebuços, com linguagem parecida à do Senhor Jesus (Lucas 6:20-26), a fim de desviar os cristãos da sedução das riquezas, e prepará-los para suportar o teste do sofrimento nas mãos dos ricos.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 148.
Tg 4.17 Aparecem com frequência as oportunidades de fazermos bem aos outros, especialmente no suprimento de suas necessidades físicas (ver Tia. 2:14 e ss.; 1:27, como parte da definição do autor do que é a fé religiosa), simplesmente porque tal necessidade é universal. Na história intitulada a Bela Lenda, vê-se um crente ocupado na contemplação de uma visão de Cristo; então surge a oportunidade de distribuir pão aos famintos, que interromperia o seu êxtase. Aquele crente todavia, tinha uma ideia bem esclarecida de seus deveres religiosos; e assim, de pronto deixou de lado sua visão mística a fim de alimentar aos famintos. Ao retornar, encontrou Cristo no mesmo lugar, que aprovou 0 que ele fez, dizendo-lhe: se tivesses ficado, eu me teria ido embora.
O autor sagrado vê claramente essa lição. Nossa fé religiosa não pode ser guardada dentro de nós. Trata-se de uma experiência mística e deve continuar como tal, pois temos contato com o Espírito Santo no nível da alma—mas deve ser algo prático, generoso, altruista. Em outras palavras, deve ser uma expressão de amor, tal como Deus é amor e «deu» seu Filho a um mundo necessitado. O trecho de Mat. 25:35 e ss. ensina a importante lição que amamos a Deus amando a outros, dando o necessário para eles, ajudando-os em suas necessidades físicas. Poucos homens podem amar a Deus diretamente, mediante a contemplação da alma, mas todos podem amá-lo indiretamente, amando ao próximo. E nesse ponto que deve começar o amor de Deus. Este comentário provê várias notas longas sobre o amor, com poesias ilustrativas. Ver João 3:16 quanto ao «amor de Deus»; ver João 14:21 e 15:10 quanto ao amor como «norma diretiva na família de Deus»; ver Gál. 5:22 quanto ao amor como um dos aspectos do «fruto do Espírito»; e ver o décimo terceiro capítulo da epístola aos Coríntios quanto ao «elogio ao amor».
O autor sagrado, pois, como que dizia: «Aquele que sabe que deve amar, porém, não ama, está pecando». Consideremos, ainda, os seguintes pontos a respeito:
1. Tal indivíduo talvez seja um bom teólogo teórico; mas não é um bom discípulo de Cristo, pois ele é o padrão de como todos nós devemos amar, e ele «foi por toda a parte, fazendo 0 bem» (ver Atos 10:38). Se falharmos nesse ponto, ainda não teremos avançado muito em nossa transformação moral segundo a sua imagem, que resulta do desenvolvimento espiritual. Ã fé devemos acrescentar a «gentileza fraternal» (ver II Ped. 1:6,7).
2. Para o autor sagrado, as boas obras são realizações dos exercícios religiosos apropriados, bem como o cuidado com a santidade pessoal (obras feitas no tocante a Deus) e práticas de bondade em favor de outros (ver Tia. 2:14 sobre isso, em suas notas expositivas). Portanto, neste lugar, o autor sagrado pode ter querido incluir a ideia que um homem deve ter cuidado com a natureza e a qualidade de suas práticas religiosas, e certamente incluiríamos a santificação prática (ver as notas expositivas em I Tes. 4:3). Porém, sua preocupação principal é a expressão do amor fraternal. Não fazer isso, é pecar.
3. Fica subentendido, embora não seja uma interpretação direta, que ele quis ensinar que cada crente tem uma missão seín-par a cumprir, sendo um instrumento ímpar nas mãos de Deus (ver as notas expositivas sobre esse conceito, em Apo. 2:17). Tudo quanto faz parte de sua existência diária, como seja, a sua expressão religiosa, etc., deveria ter por alvo o cumprimento dessa missão. Ele deveria ocupar-se em cumprir sua missão com grande intensidade de propósitos, realizando seu trabalho específico, levando-o à perfeição; e isso para seu próprio benefício e para beneficio de seus semelhantes. Mas, se vier a falhar nesse particular, estará pecando contra Deus, que lhe conferiu vida e lhe dá muitas oportunidades para cumprir a sua missão. .
4. Jesus falou de coisas «deixadas por fazer», mas que são mais urgentes e eticamente vitais do que outras (ver Mat. 25:41-45). Assim é que com frequência nos ocupamos de atividades que são legítimas, embora secundárias, esquecendo-nos das questões primárias. Isso também é pecado, embora não estejam sendo cometidos atos abertos de pecado. Mas há um desperdício das energias da vida, que são desviadas para coisas de valor secundário, quando nossas vidas deveriam ser dedicadas à realização
5. Assim também a passagem de I Sam. 12:23 mostra que o deixar de orar por alguém, que também está em grande necessidade, é um pecado de omissão. Esse princípio geral tem muitas aplicações possíveis. Um professor, preguiçoso na realização de seus deveres, comete pecado contra aqueles a quem deveria estar ajudando mais conscienciosamente. O pastor que negligencia seus deveres e se contenta em apenas pregar no domingo, também está pecando. Outro tanto faz o pastor ou mestre evangélico que se recusa a aprimorar-se, mas antes, se torna espiritual e intelectualmente preguiçoso, prejudicando seu povo; esses estarão pecando porque seu povo fica estagnado em sua vida espiritual, por falta da instrução e do encorajamento apropriados.
6. O homem que pode melhorar a vida espiritual de outros, impedindo que caiam em pecado, se não o fizer, será culpado em parte desses pecados. «Todo aquele que estiver em posição de impedir que sejam cometidos pecados por parte de membros de sua casa, mas se refreia em fazê-lo, torna-se culpado dos pecados daqueles» (Shabbath 54b).
7. Alguns estudiosos pensam que o pecado aqui focalizado não é o pecado de omissão, mas antes, que é o pecado de alguém que sabe obviamente as coisas boas que devem ser feitas, em qualquer dada situação, mas, ao invés disso, praticam as coisas erradas. Porém, a maioria dos intérpretes prefere continuar com a idéia do «pecado de omissão», como aquela falha aqui em foco.
8. O pecado contra a lüz (não corresponder à mesma) deve ser incluído na aplicação deste versículo. '
9. O pecado de não se aproximar de Deus, por motivo de orgulho e de egocentrismo, é um pecado básico de omissão.
10. Este versículo não é passagem estritamente legalista, que repreende aos judeus cristãos por não estarem cumprindo as leis cerimoniais. Mas trata-se de passagem elevadamente ética em sua natureza, e mui ampla em sua aplicação. -
«Embora a asserção possa parecer descabida entre nós, provocando comentários contraditórios, não me cansarei de asseverar que cada um de nós deveria fazer mais bem do que faz: e, portanto, nos devemos humilhar ao extremo, por termos praticado tão pouco bem no mundo» (Woods, in loc.). ■
«Aqueles que se dedicam a bons planos, e que observam devidamente suas oportunidades de praticar o bem, usualmente percebem que suas "oportunidades para tanto crescem de modo admirável. E quando uma pedra é lançada em uma poça, um círculo segue-se a outro, estendendo-se quem sabe até onde!» (Cotton Mather).
«Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites» (Luc. 12:47).
Quanto melhor instruídos ficamos, como crentes, tanto maior será a nossa responsabilidade. «Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me» (Mat. 16:24). Geralmente aceitamos essa responsabilidade mui superficialmente. De fato, dificilmente a aquilatamos conforme devemos fazê-lo. Na moderna igreja evangélica, temos visto pouquíssimo interesse pelas qualidades espirituais dos membros, mas muito interesse pelo número deles; e, por causa dessa atitude, a instrução dos crentes tem ocupado um pobre segundo lugar, em favor do evangelismo.
«Por longo tempo, as táticas têm visado induzir o maior número possível, todos quantos for possível, para que entrem no cristianismo. Não sejamos por demais curiosos em saber se aqueles que entram entendem realmente o cristianismo. Mas a minha tática, com a ajuda de Deus, será deixar claro o que é a exigência cristã, ainda que ninguém entre». (Kierkegaard, citado por P.T. Forsyth, Positive Preaching and Modem Mind, introdução).
O trecho de Rom. 1:21 mostra-nos que a grande rebelião dos pagãos contra Deus começou pelo pecado de omissão. Eles conheciam a Deus, mas não o glorificaram como tal. Não demoraram a fazer do «eu» o seu deus, tornando-se vãos em suas imaginações. E não passou muito tempo para fazerem imagens de feras, de. pássaros, etc., a fim de adorá-las.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 72.
II - O PECADO DE ADQUIRIR BENS À CUSTA DA EXPLORAÇÃO ALHEIA (Tg 5.13)
1. O julgamento divino sobre os comerciantes ricos I (v.1).
Curiosamente, ao iniciar no capítulo 5 sua contundente condenação aos ricos opressores, Tiago usa as mesmas palavras do versículo 9 do capítulo 4, quando ele estava falando aos seus leitores sobre a necessidade de se separarem do mundo e se submeterem à vontade de Deus, e que isso inclui indispensavelmente uma atitude de arrependimento sincero: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza”. Essa atitude é sintetizada na expressão “Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10a). No capítulo 5, ele conclama os ricos opressores a essa mesma atitude, isto é, a essa humilhação diante de Deus, ressaltando que o juízo de Deus é certo se não se arrependerem: “Eia, pois, agora vós ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” (Tg 5.1).
A contraposição à humildade é a soberba, que aparece aqui encarnada na vida desses ricos opressores. Como salienta o teólogo Lawrence Richards ao comentar essa passagem da Epístola de Tiago, “aqueles que confiam nas riquezas e menosprezam os direitos dos outros para acumulá-las são a antítese das pessoas humildes que Deus deseja que os crentes se tornem. Estes homens ricos personificam o sistema do mundo, que Tiago afirma ser hostil a Deus. Eles valorizam as coisas materiais, que não têm valor duradouro, e desdenham os seres humanos, que Deus afirma que têm valor supremo. A sua vida na terra, que é uma vida de ‘delícias e deleites’, serve apenas para prepará-los para o ‘dia de matança’ [Tg 5.5], o juízo divino”.3 Sua vida de prazeres e luxo estava sendo para eles como o período de engorda do gado para logo depois ser abatido (Tg 5.5).
Como afirmamos no capítulo 4, a Bíblia nos ensina que as riquezas em si não são pecado, mas apenas o amor às riquezas, o apegar-se a elas, a avareza, a cobiça, o egoísmo e a soberba. As Escrituras ensinam que o cristão que “possui riquezas e bens não deve julgar-se rico em si, e sim administrador dos bens de Deus (Lc 12.31-48)”, e deve ser “generoso, pronto a ajudar o carente, e rico em boas obras (Ef 4.28; 1 Tm 6.17-19)”.4 Além do mais, uma vez que Tiago conclama os ricos opressores a prantearem e chorarem, isso significa dizer, à luz do uso dessas mesmas expressões no capítulo 4 (v. 9), que ele “espera que reconheçam sua dependência de Deus e se arrependam de seus pecados”; e “se assim o fizerem, então o ‘abatimento’ (Tg 1.10) provocado por sua ‘miséria’ os levará a se humilharem perante o Senhor, e Ele os exaltará (Tg 4.10; cf. Tg 1.9)”.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 139-140.
Tg 5.1 Estes ricos provavelmente não são crentes, mas pessoas não-crentes e ricas (talvez as mesmas pessoas a que se fez referência em 2.6). Muito provavelmente, os ricos proprietários de terras são o objeto da repreensão mordaz de Tiago. Estas pessoas vivem em ambientes de luxo, repletas de alimentos e dinheiro. Mas há terríveis misérias, que sobre eles hão de vir não se tratando de sofrimentos terrenos, mas eternos -, e eles devem se lamentar de tristeza pelo que perderão. As palavras “chorai e pranteai” eram frequentemente usadas no Antigo Testamento pelos profetas para descrever a reação dos ímpios quando o Dia do Senhor (o dia do juízo de Deus) chegasse (veja Is 13.6; 15.3; Am 8.3). Jesus disse que entre aqueles que fossem excluídos do reino de Deus haveria pranto e ranger de dentes (Mt 8.12; 22.13; 24.51; 25.30).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 687.
Tg 5.1 No bloco anterior Tiago falou de pessoas seguras de si que pensam não precisar de Deus. É possível que agora tenha lembrado da objeção: “No entanto, não deixam de ter êxito e prosperar. Têm todos os trunfos na mão e os usam. Nós pessoas humildes temos de sofrer muito debaixo dessa situação.” Em decorrência, Tiago apresenta neste trecho o que acontece com a riqueza vinda de Deus. No presente caso as pessoas de que se fala não são primordialmente membros da igreja (ainda que vários do seu âmbito tiveram e têm de se confrontar com a pergunta: “Senhor, sou eu?”). A princípio os ricos fora da igreja não devem ter visto a carta (como também ocorreu com as palavras proféticas sobre a Babilônia, Assíria, Tiro, etc. – Is 13-23; Jr 46-51; etc. – que não foram proclamadas nessas cidades). Mas a palavra serviu para deixar as coisas claras.
1 – “Vós ricos”, em grego ploúsios (v. 1).
Tg 5.1 a) No Sl 73.12 consta: “Os ímpios aumentam suas riquezas”. Lá se mostra a figura de pessoas teimosas: “Falam com altivez.” “São sólidos como um palácio.” Qualquer meio lhes convém. “Fazem o que bem entendem” (Sl 73.4,8). Na verdade não é válida a equação: rico = ímpio, pobre = devoto. Também Abraão era rico (Gn 13.2). Mas com certeza os ricos estão majoritariamente do outro lado. Muitos não teriam enriquecido se tivessem sido escrupulosos nos métodos. Ademais é notório que o ser humano é sujeito a transformar sua riqueza em ídolo e então pensar que já não precisa de Deus. Também nos evangelhos os ricos muitas vezes participavam da oposição (Mt 23.14; Lc 16.14). O próprio Jesus descreve em suas parábolas dois personagens ricos para os quais a propriedade veio a ser fatal: o rico que ignorava Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16.19ss) e o rico agricultor que se satisfazia com sua riqueza, acreditando poder usá-la exclusivamente em prol de si mesmo (Lc 12.16-21). Jesus sentencia: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19.24; Lc 18.25). E Paulo escreve: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada” (1Tm 6.9).
b) Também hoje muitas pessoas são ateístas não tanto por causa de dúvidas intelectuais, mas porque no fundo pensam não precisar de Deus e por confiarem nos bens, na boa posição, em suas capacidades. São esses seus ídolos. Geralmente nem mesmo é necessária grande quantidade de bens, posição e inteligência para que alguém se considere “rico” no sentido do presente trecho. – Nenhum de nós está livre do risco de transformar suas propriedades e garantias maiores ou menores em ídolos: conta bancária, casa, bons ganhos constantes. Então existirá também o perigo de permanecermos “sentados” em tudo isso. “A avareza é uma raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Leva a uma atitude errônea perante Deus e pessoas.
c) Para a última jornada da história universal anuncia-se que o anticristo controlará tudo e boicotará os que se mantêm fiéis a Jesus (Ap 13.17). Aqui se explicita outra linha que perpassa a Escritura: há seres humanos cuja consciência está presa a Deus, que perseveram singela e inabalavelmente do lado de Deus e são prejudicados em todos os sentidos porque o diabo é o “príncipe deste mundo”. Nos salmos eles são chamados de “necessitados” (Sl 10.2,12; 12.5; 34.2,7; 74.19-22; etc.). Jesus os chama de “pobres”. Mas declara: “Bem-aventurados vós, os pobres” (Lc 6.20).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
«...Atendei agora...» Temos aqui as mesmas palavras que se leem no décimo terceiro versículo do capítulo anterior (ver as notas expositivas ali existentes). Literalmente temos aqui «Vinde, agora...», no sentido de «Vede, agora...», uma incisiva chamada à atenção, no estilo da diatribe. «... chorai lamentando...» Em Tia. 4:9, a lamentação e o choro são vinculados ao arrependimento, o que conduz à restauração da alma. Em contraste com isso, aqui temos uma lamentação provocada pelo julgamento inevitável. Não há aqui qualquer chamada ao arrependimento. «As lamentações, diferentemente de Tia. 4:9, não são uma expressão de humilde arrependimento, e, sim, de remorso e terror sem alívio» (Poteat, in loc.). Tudo isso, naturalmente, mostra a intensidade com que o autor sagrado sentia os erros sociais em que os pobres eram oprimidos pelos ricos.
Não é verdade que muitos são reduzidos a escravos virtuais, que recebem salários ridículos por um trabalho árduo, que lhes consome longas horas? O avanço do comunismo no mundo não tem resultado essencialmente do fato de ser um bom sistema econômico, pois a experiência não tem demonstrado isso; pelo contrário, seu progresso se deve aos abusos do capitalismo.
Consideremos os aluguéis que são cobrados, o preço das consultas aos médicos, etc. Nessas, e noutras áreas, exerce-se uma feroz pressão econômica, que muitos governos não conseguem controlar, ou se recusam a fazê-lo.
«...chorai...» No grego é Maio», «chorar», com frequência usada com o sentido de «chorar pelos mortos», sentido tristeza e desespero. Esse é o ' ‘ ’ choro daqueles que antecipam um juízo severo, e não o choro dos penitentes. (Comparar com Apo. 6:15-16 e Joel 1:5).
«...lamentando...» No grego, «ololudzo», termo usado para indicar «chorar em voz alta», «uivos de lamentação». Era termo usado para descrever a palavra anterior. O «choro» será em altos uivos de lamentação.
«...desventuras...» No grego é «talaiporia», «misérias». Há uma alusão direta aos «sofrimentos dos condenados», ao julgamento, embora certas tristeza?, provocadas pelo infortúnio, talvez não estejam excluídas do pensamento do autor sagrado.
Alguns intérpretes acreditam que temos aqui uma profecia sobre a destruição de Jerusalém; mas tal juízo foi apenas uma prelibação do juízo da alma, pelo que não pode ser a questão especificamente em vista, se é que ela se destaca aqui. E nem o juízo significa mera «perda das propriedades», conforme alguns estudiosos supõem.
«...sobrevirão...» No grego é usado o particípio presente—agora mesmo elas começam a concretizar-se, imediatamente antes da «parousia» (ou segundo advento de Cristo).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.
2. O mal que virá (v.2).
Tg 5.2 Ambos os verbos deste versículo e o primeiro verbo do versículo seguinte estão no tempo perfeito. Ropes os descreve habilmente como "declarações pitorescas e figurativas da verdadeira inutilidade desta riqueza à vista daquele que conhece o valor do que é permanente e eterno" (op. cit., pág. 284). A riqueza deve ser usada para bons propósitos, não entesourada.
Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular. pag. 23.
Tg 5.2 a) O fato da mudança de tom. Tiago vê aproximar-se o que os ricos ainda não veem: “Atenção, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão!” Assim como em geral o dono da casa ergue a taça no início de uma festividade e brinda como sinal de que a festa está começando: “Atenção!”, assim Tiago convoca agora para o lamento. Ainda estão “numa boa”. Porém isso acabará em breve. Devem preparar-se desde já. Isso é semelhante às palavras de Jeremias, que já entoava o lamento fúnebre (cf. Jr 4.19ss; etc.) quando muitos ainda se consideravam seguros em Jerusalém. “Como o mundo jaz cego e morto! Dorme em segurança e presume que a aflição do grande dia ainda está distante e remota” (J. C. Rube; cf. também Lc 17.26-30).
Tg 5.2 b) A causa da guinada. “Vossa riqueza está apodrecida”: provavelmente tem-se em mente as ricas reservas de víveres que foram estocados e agora se deterioraram. Era muito melhor guardar esses estoques do que dá-los aos pobres (Sl 41.2; Pv 19.17; Sir 4.1-6; Mt 5.42; 25.40; Lc 6.38; Gl 6.9s; Hb 13.16). Talvez também se visasse aguardar tempos em que se poderia vendê-los a preços vis. – “Vossas roupas estão comidas de traças”: os antigos não tinham dinheiro em moeda, como hoje. Acumulavam-se sobretudo valores materiais, tecidos, vestes preciosas etc. Também João Batista convocou – de forma audível para muitos em Israel – a um comportamento diferente (Lc 3.11). Novamente somos lembrados aqui do Sermão do Monte (Mt 6.20).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 5.2 Essas palavras indicam a decadência das riquezas: o ouro e a prata, apesar de serem naturalmente resistentes à ferrugem ou corrosão, serão sobrenaturalmente corroídos. As riquezas representadas pelas vestes luxuosas serão dilapidadas pelas traças terrenas, sendo totalmente consumidas no julgamento, o qual é anunciado como algo iminente e inevitável.
«...roupagens comidas de traça...» Os povos orientais daquela época gastavam grandes somas em dinheiro adquirindo roupas caras; e isso envolvia tanto trajes femininos como masculinos. Tal era o perigo constante das traças que estas logo podiam estragar e inutilizar tais roupas, enfetando-as. Porém, o futuro julgamento ainda é uma perspectiva mais temível, quando o juízo mostrar-se mais destruidor do que as traças terrenas. 0 julgamento é um supercorrosivo.
Alguns intérpretes pensam que este versículo, do ponto de vista espiritual, pronuncia denúncia contra as riquezas, como se estas fossem já sujeitas a certa espécie de decadência: estão corroídas, perfuradas pelas traças e enferrujadas. «A sua ferrugem testificará contra vós no dia do julgamento, mostrando quão sem valor é aquilo em que confiais. E a inutilidade de vossas riquezas será então a vossa ruína, porquanto continuais a amontoar para vós mesmos somente o fogo do inferno». (Ropes, in loc.).
Notemos aqui os verbos no perfeito, «sesepen» (corruptas) e «gengonen» (comidas pelas traças) e«katiotai»(enferrujadas, no segundo versículo), que descrevem graficamente o «estado» de corrupção e inutilidade em que as riquezas já se encontram, do ponto de vista espiritual. Mas há estudiosos que pensam que esses verbos no perfeito indicam antes a «antecipação profética», como se o juízo já tivesse tido lugar. «Todas as vossas riquezas perecerão no dia do juízo. Sua ferrugem testificará contra vós de antemão, sobre vossa própria vindoura destruição; e o juízo, quando houver destruído vossas possessões, cairá sobre vós. Tendes acumulado tesouros para os próprios dias do julgamento!» (Huther, in loc.).
«Vossas riquezas estão se embolorando na corrupção, e vossas vestes, guardadas em vã superfluidade, estão comidas pelas traças; embora ofusquem aos homens com o seu resplendor, de fato, já estão cancerosas; são abomináveis aos olhos de Deus; a ira divina soprou sobre elas e as ressecou; já começam a encolher-se e ser destruídas». (Bispo Wordsworth, in loc.).
Ê extremamente difícil perceber-se que as verdadeiras riquezas de um homem são medidas por quanto ele dá de si mesmo, de suas possessões materiais e não por quanto ele é capaz de reter para si mesmo. (Ver Marc. 8:35: «Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvà-la-á»).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.
3. A corrosão das riquezas e o juízo divino (v.3).
No capítulo 5, Tiago mais uma vez chama a atenção para a transitoriedade e a deterioração natural das riquezas (Tg 5.2,3). Ele já havia feito essa alusão no capítulo 1, usando como analogia a beleza passageira da flor (w. 10,11).
Um aspecto importante das palavras de Tiago nos versículos 2 e 3 é que, ao afirmar que as riquezas daqueles ricos opressores estavam apodrecidas, com vestes comidas de traça e ouro e prata enferrujados, o apóstolo estava destacando também que os bens daqueles homens haviam perdido o seu propósito. “O fato de as vestes representarem o alimento das traças, o dinheiro guardado se tornar manchado e o ouro e a prata enferrujarem, não sendo utilizados por seus donos quando poderiam ter sido destinados aos pobres, indica que foram afastados da função a qual Deus lhes destinou. Se os ricos aceitarem a vontade de Deus como a sua própria, então usarão suas posses para suprir as necessidades dos semelhantes (Tg 2.15,16) em vez de viver em luxurias e deleites (Tg 5.5; cf.Tg4.3).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141.
Tg 5.3 Os metais preciosos acumularam-se e estragaram-se sem ter sido usados. Quando a riqueza não é usada para ajudar os outros, ela perde o seu valor. Tiago nos adverte de que até mesmo o que parece ser mais indestrutível (ouro e prata) estará condenado se não for colocado em um bom uso. A inutilidade do ouro e da prata acumulados os comerá como fogo no inferno. Então, se revelará a avareza, o egoísmo e a maldade dos ricos. Eles deixaram de fazer o bem com o que tinham, e isto é pecado (4.17).
Poucas pessoas no mundo ocidental podem ler esta passagem com entendimento e não ficar pelo menos marcadas pela sua verdade. Nós provavelmente adicionamos uma nova dimensão ao problema, porque não acumulamos para preservar para mais tarde, mas acumulamos para gastar, ou até mesmo para desperdiçar. Os crentes da atualidade encontram-se participando da tendência da sociedade de consumir tanto quanto possível sem considerar as condições em outras partes do mundo, ou até mesmo o que vamos deixar para os nossos filhos e netos. Será que a nossa ferrugem não dará testemunho contra nós nos últimos dias?
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 687-688.
Tg 5.3 “Vosso ouro e vossa prata enferrujaram”: os antigos ainda não tinham a possibilidade de limpar metais nobres de outras substâncias da forma como nós. Por isso era possível que em certas condições também ouro e prata oxidassem. Todas as jóias e outros objetos metálicos de valor experimentavam forte depreciação. Em suma: aquilo em que consiste a riqueza é passageiro, está sujeito à transitoriedade geral, também hoje: muda o “clima” na economia de um país. As ações caem. Empresas de renome pedem concordata ou têm de ser vendidas com urgência; não resta muita coisa aos donos antigos. Instala-se o desemprego. Bons cargos se perdem. Outros ramos da economia são prejudicados também. Caem as receitas de impostos. Uma coisa está ligada à outra. O chão treme sob os pés. Ou pode ser até mesmo que grasse pelo país o arado da guerra e da revolução; grandes personalidades de ontem tornam-se hoje mendigos.
c) Bens não usados transformam-se em acusação: “Sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos”: Na grande data do juízo de Deus servirão de testemunhas contra eles os mantimentos deteriorados e as roupas, bem como o dinheiro estocado e depreciado, que não manteve seu brilho, por assim dizer, por não circular nas mãos de terceiros. Também nós um dia seremos questionados: “O que você fez com sua vida, com seus dons, com sua profissão e sua propriedade, bem como com as pessoas necessitadas que coloquei diante de você?” São perguntas dirigidas não apenas ao “mundo”, mas também a nós. Isso inicia com as pessoas que encontramos, estendendo-se até as tarefas de amplitude mundial. Em nossa época fala-se muito, mas apenas se fala, de “ajuda para o desenvolvimento”. Várias pessoas a transformam praticamente em substituto para o evangelho que perderam. Talvez seja por isso que quase não suportamos mais ouvir a palavra. Não obstante, um dia seremos questionados: Vocês ouviram muito sobre a miséria daqueles povos distantes, mais do que no passado. E vocês também tinham mais possibilidades de fazer algo, mais que no passado. O que foi que vocês cristãos ocidentais abastados fizeram nessa área?
d) A conexão de nosso destino com o de nossos bens. “Sua ferrugem há de devorar, como fogo, a vossa carne”: a ruína do que foi acumulado contagia aquele que acumulou e que se prendeu às coisas acumuladas. O ídolo arrasta o idólatra junto em sua própria ruína. É como quando um cachorro está acorrentado na varanda de uma propriedade rural, e as construções se desfazem em chamas. O pobre animal uiva e força a corrente, tentando se soltar. Finalmente, porém, é esmagado na queda do telhado em chamas. Assim acontece com o ser humano que se deixou amarrar a esse mundo e seus bens. João escreve: “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17). É extremamente importante soltar-se do mundo e ligar-se a Jesus. Ele declara: “A (vontade e a) obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6.29). “Todo o que comete pecado é escravo do pecado… Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Tg 5.3 «...gastos de ferrugens..." O ouro e a prata não se desgastam dessa maneira, pelo que sabemos que o autor sagrado falava sobre a «ferrugem sobrenatural*, sobre o eventual poder consumidor do julgamento, que reduzirá as falsas riquezas dos homens ao nada.
«...par testemunho contra vós mesmos...» No dia do juízo, as falsas riquezas de um homem, sendo consumidas, servirão de testemunho contra ele: mostrarão como ele desbaratou a sua vida, servindo a si mesmo, enquanto seus semelhantes padeciam necessidade. A estes o rico conveniente terá ignorado, ao passo que o dinheiro lhe era abundante, deixando-o a gozar no seu lazer. Esqueceu-se das necessidades do espírito e serviu antes ao corpo e ao mundo. Deveria ser chamado por causa disso, a prestar contas; pois todos os homens serão julgados segundo as suas obras (ver Rom. 2:6 e Apo. 20:12). A redução das riquezas terrenas ao nada, no juizo, será um «sinal visível», claro e inequívoco, de que o indivíduo em questão merece o juízo que está prestes a receber.
«...devorar, como fogo as vossas carnes...» A perecibilidade das riquezas indica a ruína dos ricos: estes perecerão todos juntos; aquilo a que os ricos deram tanto valor, e no que confiaram, será o motivo de sua perdição. A ideia ou simbolismo apresentado é o de metais corroídos; e nesse processo, emana grande calor, como de fogo, que consome o indivíduo que os amealhara. Ou talvez devamos pensar em uma corrente enferrujada, enrolada e apertada em torno do indivíduo, a qual consome o indivíduo com sua ferrugem envenenada. (Ver Eclesiástico 34:31 quanto a uma figura simbólica um tanto similar). Figuradamente, a «carne» indica 0 próprio homem, visto como alguém destroçado no juízo, mas sem haver qualquer alusão literal à destruição do corpo.
Alguns eruditos pensam que a palavra fogo, que há no versículo, está ligada ao que se segue, e não ao que precede. Assim, ao invés de dizer-se que a carne do homem foi comida como que pelo fogo, dever-se-ia imaginar: «...ajuntastes fogo, amontoando vossos tesouros». A diferença, na estrutura da sentença, depende de como a pontuarmos. Ocasionalmente isso se torna questão de interpretação, porquanto os manuscritos originais não tinham qualquer pontuação. Seja como for, um bom sentido é conseguido. No segundo caso, o próprio tesouro é visto como algo imbuído das chamas da Gehena, tornando-se o motivo mesmo da perdição do rico.
(Ver Isa. 30:33; Judite 16:17; Mat. 5:22 quanto ao fogo da Gehena. Tiago 3:6 alude a isso, onde também aparecem notas expositivas completas a respeito).
Em favor da segunda dessas duas interpretações, pode-se observar que a menos que o fogo seja entendido com aquilo que se segue, fica sem objeto o verbo grego «ihesauridzo»; no entanto, normalmente, se não mesmo sempre, esse verbo é transitivo. Se «fogo» não é seu objeto, então temos de dizer que aqui esse verbo é usado de modo intransitivo. Alguns intérpretes, entretanto, creem que tal uso é possível, e que o verbo «contém em si mesmo o seu objeto». Os usos léxicos parecem confirmar essa opinião. (Ver Luc. 12:21; II Cor. 12:14, que parecem ser casos claros do modo intransitivo. Quanto a outras passagens bíblicas com uma mensagem similar à que se vê no presente versículo, ver Mat. 6:19; Marc. 10:21; Luc. 18:22; Rom. 2:5; Pro. 1:13; 2:7; Tobias 4:9; IV Esdras 6:5, 7:77; Testamento dos Doze Patriarcas, Levi, 13:5).
«...nos últimos dias...» Essa expressão é compreendida de diversas maneiras no N.T., a saber: 1. Pode significar «os dias do Messias», quando Cristo viveu no seu primeiro advento, pintado como algo que precederá imediatamente uma gigantesca transformação nas condições das vidas dos homens. Isso significaria os «últimos dias» da comunidade judaica, conforme ela existia nos tempos de Jesus, antes de qualquer transformação revolucionária. 2. Também pode aludir à dispensação do evangelho, vista como algo que precede cronologicamente o retorno de Cristo, e quando, então, ele estabelecerá o estado eterno. 3. Pode-se referir-se à «última porção» da’ dispensação desse evangelho. 4. Pode ser uma referência aos dias do juízo, propriamente dito. Os intérpretes normalmente pensam na terceira ou na quarta dessas posições. Os ricos seriam então vistos como ridículos, a amontoarem riquezas nos «dias preliminares» mesmo do segundo advento de Cristo, como se estivessem fazendo algum negócio importante em seu leito de morte. Ou a ideia pode ser o quão inútil é, para os ricos, viverem esse tipo de vida autocentralizada, porque aquilo que eles amontoaram está destinado meramente à destruição certa, quando do julgamento (o qual é visto como iminente, ver o sétimo versículo).
Já que há uma referência à «parousia», no sétimo versículo, supomos que os «últimos dias», deste versículo, indicam aqueles dias que antecederão imediatamente a segunda vinda de Cristo, quando ele vier para julgar. O autor sagrado não sabia por quanto tempo perduraria a era da graça. Tal como outros escritores sagrados do N.T., ele via a segunda vinda de Cristo como ocorrência não distante, e que talvez ocorresse até mesmo durante sua vida terrena. (Quanto a notas expositivas sobre essa expectação dos crentes primitivos, ver I Cor. 15:51 e I Tes. 4:15. Quanto a outras referências aos «últimos dias», no N.T., onde há notas expositivas adicionais, ver João 6:39; 6:37; Atos 2:17; II Tim. 3:1; Heb. 1:2 e II Ped. 3:3. Ver também a expressão «último tempo», em I Ped. 1:5,20).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 74.
III - O ESCASSO SALÁRIO DOS TRABALHADORES “CLAMA” A DEUS      (Tg 5.4-6)
1. O clamor do salário dos trabalhadores (v.4).
O principal pecado desses ricos opressores era, segundo a denúncia clara do apóstolo Tiago, o não pagamento dos salários devidos. Tiago afirma que os trabalhadores que ceifavam nas terras desses ricos, na hora de serem pagos pelos seus trabalhos, em vez de receberem o salário combinado, tinham o seu pagamento distorcido, reduzido, diminuído (Tg 5.4). E mais: além de cometerem o pecado de não pagarem o salário devido, esses ricos estavam cometendo indiretamente assassinato, conforme a denúncia contundente de Tiago, que afirma que o não pagamento desses ricos aos pobres trabalhadores lançara estes em uma situação de miséria e morte. Diz o apóstolo: “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu” (Tg 5.6). Como resultado dessa atitude, Deus resistirá a esses ricos criminosos (Tg 4.6); seu juízo virá sobre eles (Tg 5.1).
Desde o Antigo Testamento, ainda na Lei de Moisés, encontramos a proibição divina de o empregador oprimir o empregado. Ela se encontra em Deuteronômio 24.14, mesma passagem que assevera que o trabalhador tinha direito ao salário devido e este não poderia ser de forma alguma atrasado. Afirma expressamente o próprio Deus, conforme registrado por Moisés: “No seu dia, lhe darás o seu salário, e o sol se não porá sobre isso; porquanto pobre é, e sua alma se atém a isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”. Na Nova Versão Internacional, a mesma passagem é assim vertida para o português: “Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr do sol, pois ele é necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor contra você, e você será culpado de pecado”.
Ao desrespeitarem esse mandamento divino, esses ricos opressores estavam acumulando culpa sobre as suas cabeças, preparando-se para o juízo divino. Seu enriquecimento era fraudulento, o que já era frisado no capítulo 2 da Epístola de Tiago, quando o apóstolo afirma: “Mas vós desonrastes o pobre. Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos arrastam aos tribunais?” (Tg 2.6). Isto é, os ricos opressores chegaram às raias dos tribunais, devido a seu crime, mas saíram vencedores. Essa é a razão pela qual Tiago afirma no capítulo 5, versículo 6, que o inocente pobre “não vos resistiu”, isto é, não resistiram aos ricos, mas foram condenados.
Como frisa o teólogo A. F. Harper, essa expressão “não vos resistiu” refere-se, provavelmente, ao fato de que “o pobre não tinha uma defesa legal adequada”, de maneira que, “nos tribunais, os ricos influentes têm condenado e devastado’ [condenado e matado] o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o suborno para o juiz”. Conclui Harper: “O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso ao ponto de tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina”.
Eis o centro da denúncia de Tiago no capítulo 5: a prática desses ricos maus de “acumular fortuna pessoal deixando de pagar seus empregados (v.4) é a base da acusação específica de Tiago quando menciona ‘matar o justo’ (v.6), porque tirar o pão de um semelhante é cometer assassinato; privar um empregado do salário é derramar seu sangue”. Sem o seu salário, esses pobres trabalhadores, que dependiam exclusivamente desses salários para sobreviver, não poderiam viver por muito tempo — definhariam até a morte.
Por fim, um dos ensinos importantes desse texto que abre o capítulo 5 de Tiago é que Deus está atento ao clamor dos que sofrem injustiças na terra. Deus não está alheio às injustiças que acontecem e, conforme assevera o apóstolo, aqueles que praticam maldades contra inocentes, que oprimem os outros, que promovem injustiças, receberão a sua paga inexoravelmente (Tg 5.1), ou ainda aqui na terra ou na eternidade se não se arrependerem.
Outra coisa que aprendemos é que, assim como Tiago se colocou como uma voz contra esses opressores, uma voz em favor daqueles inocentes oprimidos, o cristão deve também erguer sua voz contra as injustiças nesse mundo e a favor das vítimas inocentes.
E se você está sofrendo alguma injustiça na sua vida, lembre- se: Deus não está blindado em um canto do Universo, surdo e cego, sem atentar para a sua causa. Não! Ele simpatiza com a sua causa. Ele não suporta a injustiça, e Ele sabe muito bem tudo o que você está passando. O Senhor dos Exércitos — isto é, aquEle que peleja por nós — está ouvindo o seu clamor (Tg 5.4b).
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141-145.
Tg 5.4 Estes trabalhadores do campo trabalhavam para as pessoas ricas durante o dia e seriam pagos no final do dia. Eram lavradores pobres. Muito provavelmente, eles tinham sido forçados a sair das suas próprias terras por execução de alguma hipoteca, e então eram contratados pelo proprietário rico de uma propriedade maior. Eles viviam à margem da fome extrema — o salário de hoje comprava a comida de amanhã. Se um trabalhador não recebesse o seu pagamento, toda a sua família passaria fome. Se o proprietário se recusasse a pagar, havia pouca coisa ou nada que o trabalhar pudesse fazer. O dinheiro que deveria ter sido entregue ao trabalhador também era uma evidência contra estas pessoas ricas. O clamor pelo salário retido dos trabalhadores e dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. O único recurso que os pobres tinham era clamar a Deus. Se estivermos enfrentando a opressão, a fé exige que nós nos lembremos de que Deus é a nossa força e o nosso defensor. Circunstâncias temporárias não alteram a soberania de Deus. Deus nos protegerá do mal espiritual nesta vida e nos dará as alegrias que nós desejamos na vida porvir. Ele nos assegurará que a justiça será feita e julgará os opressores.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688.
Tg 5:4 Além do mais, Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral indicam injustiça. Na Palestina, em geral, tratava-se de injustiça contra os trabalhadores rurais. Vede! o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando. O sistema econômico da Palestina utilizava trabalhadores braçais diaristas, em vez de escravos, em parte porque o escravo (Tiago 4:13-5:20) passaria a custar mais, caso ele convertesse ao judaísmo. Esses trabalhadores contratados eram os filhos jovens das famílias de camponeses expulsas de suas terras por causa de bancarrota, quando as hipotecas das propriedades venceram e não havia como pagá-las. Tais trabalhadores viviam da mão à boca. O salário de hoje é para comprar o desjejum de amanhã. Quando o salário não era pago no fim do dia, a família passava fome. A despeito de uma porção de mandamentos no Antigo Testamento (Levítico 19:13; Deuteronômio 24:14-15), os ricos descobriam jeitos de reter o salário dos trabalhadores (e.g., Jeremias 22:13; Malaquias 3:5). O fazendeiro poderia retê-lo até o fim da época de colheita, a fim de garantir que o camponês viria trabalhar; poderia apelar para uma minúcia técnica a fim de provar que o contrato não foi cumprido; ou poderia alegar estar cansado demais para pagar o salário no fim do dia. Se o trabalhador reclamasse, o patrão o poria na lista negra; se fosse aos tribunais, o rico teria os melhores advogados. Assim é que Tiago retrata o dinheiro no bolso dos ricos, dinheiro que deveria ter sido usado para pagar os trabalhadores que clamam por justiça. Os clamores não deixaram de ser ouvidos por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver desculpa de falta de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O trabalhador faminto apelou aos prantos para o único recurso que tem: Deus. Ao mencionar o Senhor Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9, onde as pessoas que adquirem grandes latifúndios são condenadas.
Todos os judeus sabiam o que acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e também sabiam que os ouvidos de Deus estão abertos para os pobres (Salmo 17:1-6; 18:6; 31:2), de modo que a declaração de Tiago inclui a ameaça de julgamento.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-151.
Tg 5.4 a) Acumular bens ao invés de fazer o bem por meio deles. “Tesouros acumulastes…”: O que acontecerá se – analisado à luz do dia – isso for basicamente o denominador principal daquilo que queremos e praticamos? Pessoas trabalhadoras e parcimoniosas correm esse perigo. Será que aquilo que investimos na construção do reino de Deus e em prol da carência de nossos semelhantes se situa em patamares análogos ao que contribuímos para a poupança da casa própria? – Como agravante é acrescentado: “nos últimos dias.” Desde a vinda de Jesus na realidade vigoram os “últimos tempos” (Hb 1.2). Quando, porém, colocamos a Bíblia aberta ao lado do jornal nos dias de hoje, impõe-se a impressão de que agora se manifestam de maneira notória os citados presságios do retorno de Jesus. Nesse caso, de fato importa para nós algo diferente do que “ter sucesso na vida”. “Livra-te, salva a tua vida” (Gn 19.17) e a de outros. Jesus declara: “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló…” (Lc 17.27s).
4 b) Violação não apenas do amor, mas igualmente do direito (cf. Lv 19.13; Dt 24.14; Jr 22.13). “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos cortadores penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”: não somente deixaram de doar, mas tampouco deram o que era devido (até mesmo por um serviço que lhes trouxe muitos rendimentos). Também nós cristãos temos de nos submeter a interrogatório nesse aspecto. Paulo diz: “Não fiqueis devendo nada a ninguém” (Rm 13.8). Talvez façamos muitas coisas voluntariamente no sentido do amor cristão (o que possivelmente nos rende certo reconhecimento). Contudo geralmente deixamos de fazer o que simplesmente teria sido nosso dever e o que todos consideram óbvio (motivo pelo qual não rende nenhuma admiração). Primeiro temos de satisfazer a justiça, antes de praticarmos o amor. Primeiro temos de pagar as contas antigas e assalariar com justiça nossos colaboradores, antes de fazermos grandes donativos. É possível atuar ocasionalmente de maneira cristã, e ao mesmo tempo negligenciar os pais idosos, o cônjuge e os próprios filhos. “Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Como pregadores e pastores podemos ter grande alcance pela mensagem falada e escrita e ter um nome, e ao mesmo tempo negligenciar os enfermos, os idosos e a população de risco na própria congregação e igreja. “O que se requer dos administradores é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Somos administradores com tudo o que temos e somos. Tudo é propriedade dada em custódia. Importa, então, ser fiel no lugar em que Deus nos colocou.
O salário retido “grita” a Deus como o sangue de Abel (Gn 4.10) e como o pecado de Sodoma (Gn 18.20). Surpreendentemente Deus se importa também com a realidade social e nosso comportamento em sociedade. Não queremos ficar em dívida nem nos aproveitar da parte contrária, sejamos empregadores ou empregados. Também categorias profissionais inteiras devem receber o que lhes
cabe, p.ex., a classe camponesa, porque “todo trabalhador é digno de seu salário” (cf. Lc 10.7). Faz parte do “salário” também a moradia digna e a obtenção do devido reconhecimento, sem ser degradado para cidadão de segunda categoria.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. A regalia dos ricos que não temem a Deus cessará (v.5)
Tg 5.5 Os estilos de vida dos ricos e famosos podem interessar aos meios de comunicação, mas são nocivos para Deus. Estes ricos, que tomaram as terras dos pobres e depois se recusaram a pagar os seus merecidos salários, mostraram uma enorme falta de consideração e um grande egoísmo. A isto, eles acrescentaram uma atitude de desperdício e autoindulgência que Deus detesta. Uma vida de luxo e de satisfação de cada capricho não tem basicamente nenhum valor. O dinheiro não significará nada quando Cristo retornar, de modo que nós devemos passar o nosso tempo acumulando tesouros que terão valor no reino eterno de Deus. O dinheiro em si não é o problema; os líderes cristãos precisam de dinheiro para viver e sustentar as suas famílias; os missionários precisam de dinheiro para ajudar a transmitir o Evangelho; as igrejas precisam de dinheiro para realizar eficazmente o seu trabalho. E o amor ao dinheiro que leva à iniquidade (I Tm 6.10) e que faz com que alguns subjuguem a outros para conseguir mais. Esta é uma advertência a todos os cristãos que são tentados a adotar padrões mundanos em lugar dos padrões de Deus (Rm 12.1,2) e um encorajamento a todos aqueles que são oprimidos pelos ricos.
Para estas pessoas ricas, o seu tesouro é a riqueza mundana. Elas aproveitaram a vida, banqueteando-se como no dia da matança de um animal. Ironicamente, Tiago diz que elas são como animais gordos preparados para a matança, no dia em que vier o julgamento de Deus (veja Jr 12.1-3).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688.
O mal do versículo 5 é mais uma faceta do espírito egoísta refletido nos versículos 2-3. As riquezas condenam todo aquele que as usa para um prazer puramente pessoal. A Bíblia Viva parafraseia as palavras de forma correta: “Vocês gastaram seus anos aqui na terra divertindo-se, satisfazendo todos os seus caprichos”. Há várias interpretações da frase num dia de matança (cf. Jr 12.3). As diferenças dependem do significado da preposição. Num (em um) pode significar “em”, “no”, “por meio de”, “para”. Matthew Henry viu nessa frase uma referência às festas judaicas em que muitos sacrifícios eram oferecidos. “Vocês vivem como se cada dia fosse um dia de sacrifícios, uma festa; e, dessa forma, seus corações são engordados e nutridos para a estupidez, imbecilidade, orgulho e insensibilidade, em detrimento da miséria e aflição dos outros”.4 De acordo com o contexto parece que a preposição en em relação ao dia do julgamento pode ser melhor traduzida por “para”. Uma tradução recente interpreta esse versículo da seguinte maneira: “Vocês viveram na terra luxuosamente, engordando-se como gado — e o dia para a matança chegou”. Moffatt ressalta e aguça o conceito: “como para o dia de matança”. A finalidade dessa seção inteira é resumida por Moffatt da seguinte maneira: “Vocês precisam pagar com a sua vida pelo deleite cruel que custou a vida de suas vítimas, as vítimas da sua opressão social e judicial”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 190.
Tg 5.5 Realizar festas dispendiosas enquanto outros passam fome. “Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração”: Afirma-se: “Também tive de trabalhar. Afinal, também devo ter o direito de aproveitar alguma coisa!” As pessoas moram muito bem. Viajam em férias para locais longínquos. Afirma-se sobre o rico agricultor que ele “não foi rico para Deus” (Lc 12.21). Para si próprio, porém, foi rico. Não deixou faltar nada em casa: “Alma minha, come e bebe!” Porém para Deus ele foi pobre, miserável. O que Tiago está escrevendo aqui não pode ser repassado simplesmente às “instâncias” do mundo. Trata-se de um questionamento que vale também para nós.
Novamente consta uma ênfase semelhante à do v. 3: ademais “no dia da matança”. Primeiramente poderíamos imaginar o dia em que os animais cevados eram mortos para banquetes e celebrações festivas. No entanto, sofriam privações os trabalhadores que haviam recolhido a safra e aos quais continuava sendo negado o salário, ou que era pecaminosamente mantido baixo. Contudo no judaísmo daquele tempo, em consonância com passagens como Jr 12.3, a expressão “o dia da matança” é significado consistente do grande dia do juízo, no qual Deus proclama e executa sua sentença. A palavra significa: mesmo enquanto já está raiando o dia do juízo, procura-se persistir no intuito de buscar divertimentos.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. O pobre não resiste à opressão do rico (v.6).
Um ponto importante a ser frisado aqui é o uso que Tiago faz do termo “justo” no versículo 6, quando afirma “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. A ideia clara do uso desse termo nessa passagem para se referir a esses pobres trabalhadores oprimidos é que o apóstolo quer destacar a seus leitores o fato de que eles não eram homens maus sofrendo alguma represália dos seus chefes ricos pela sua maldade. Não. Eles eram homens inocentes.
Tiago não está aqui atribuindo alguma bondade inata aos pobres pelo simples fato de serem pobres. Ele estava, sim, preocupado em enfatizar o fato de que aqueles homens não mereciam o que seus empregadores estavam fazendo com eles. Ele estava dizendo que aqueles pobres empregados haviam trabalhado honestamente, ceifando as terras de seus senhores, mas receberam em troca um salário aquém do combinado e de suas necessidades, quando os seus empregadores tinham condições de pagar o salário prometido, que garantia a subsistência daqueles pobres homens.
Portanto, o referido versículo não pode ser usado como argumento para sustentar a Teologia da Libertação, que ensina o equívoco de que os pobres são justos diante de Deus pelo simples fato de serem pobres, o que não encontra base alguma nas Sagradas Escrituras. Como afirma uma antiga e precisa regra básica de hermenêutica bíblica, texto sem olhar o contexto é pretexto.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 142-143.
Tg 5.6 A condenação e a morte de pessoas justas provavelmente eram tanto ativas como passivas. As pessoas inconvenientes podem realmente ter sido assassinadas, mas é mais provável que as pessoas pobres que não podiam pagar as suas dívidas fossem lançadas na prisão ou forçadas a vender todas as suas posses. Sem meios de sustento, e sem oportunidades até mesmo para trabalhar para pagar suas dívidas, estas pessoas pobres e suas famílias frequentemente morriam de fome. Deus também considerava isto um assassinato. De uma maneira ou de outra, no sistema injusto, isto era legal. O pobre não tinha como resistir. O seu único recurso contra os ricos iníquos era clamar a Deus. As condições que Tiago está descrevendo podem parecer desesperadoras. Muitos dos ricos não se arrependerão. Entretanto, os crentes podem viver com esperança, porque Cristo está voltando. Ele trará juízo e justiça. Tiago agora passa a falar a respeito da volta de Cristo.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688-689.
O versículo 6 reflete a riqueza desonesta adquirida por meio de ações fraudulentas da justiça. Em 2.6, Tiago refere-se aos ricos que “vos arrastam aos tribunais”. Ele não vos resistiu provavelmente significa que o pobre não tinha uma defesa legal adequada. Nos tribunais, os ricos influentes têm “condenado e devastado” (Phillips) o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o suborno para o juiz. O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso a ponto de planejar tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 190.
Tg 5.6 O poder propiciado pela riqueza também é malversado em relação à liberdade, honra e vida de terceiros. “Condenastes e matastes o justo”: aqui devemos pensar primeiramente em Jesus. Foi condenado por aqueles que possuíam influência, riqueza e poder. A perseguição ao jovem cristianismo por parte do judaísmo igualmente se deu por meio de pessoas com influência, riqueza e poder. O mesmo aconteceu durante a perseguição secular aos cristãos por parte do poderoso Império Romano. Tampouco é diferente quando cristãos sofrem nos dias de hoje. Acima de tudo isso valerá no último trajeto da igreja de Jesus durante a tribulação do anticristo. – “Ele (porém) não se opõe a vós”: também isso valia inicial e principalmente para Jesus. “Não se contrapôs”. Não porque não tivesse poder, mas porque não o usou, em acordo com a vontade do Pai: “Posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos. Como, porém, se cumpririam as Escrituras? É assim que deve acontecer” (Mt 26.53s). O que vale para Cristo vale também para os cristãos. Jesus diz a Pedro: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52). É assim que também temos de compreender a palavra de Rm 13.1ss, escrita aos cristãos de Roma nos dias de alguém como Nero: “Quem resiste às autoridades, resiste à ordem de Deus”, sobretudo à ordem que ele deu a seu Filho e aos seguidores dele para a caminhada: a ordem de sofrer (cf. Rm 13.2; Mt 16.24; At 14.22). Por isso a igreja de Jesus, particularmente também na tribulação do fim, está proibida de se defender: “Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos” (Ap 13.10; 14.12). É muito importante permanecer também sob esse aspecto no caminho do discipulado de Jesus: “Ele não se contrapôs” (cf. Ap 14.4).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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