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5° LIÇÃO 3° TRIMESTRE 2014 O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA

O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.38.
Há na atualidade pouca disposição em se ouvir, estudar, entender, compreender para expor um assunto. Não! Muitos querem falar sobre tudo. Ainda não se tem a maturidade intelectual e querem sair por aí questionando e opinando sobre todos os temas.

Ouvir é uma arte. Quando se ouve alguém, quer através da comunicação verbal, escrita ou oral, quer através da comunicação não verbal, admiti-se a possibilidade de aprender para conhecer. Como ensinar se não aprendemos? Espera-se de quem fala sobre um assunto o mínimo do conhecimento necessário a respeito do tema proposto.
Professor, você deve ter lido livros sobre como melhorar uma Escola Dominical. As dicas são muitas: Marketing, café da manhã entre professores, café da manhã trimestral; passeio no parque etc. Mas uma questão fundamental quase nunca focada é o bom planejamento da aula do professor. Ou seja, se o professor não tiver conteúdo de nada adiantarão fazer cafés, passeios e marketing para desenvolver a ED. Mas para se ter conteúdo é preciso estar disposto a ouvir. Este é o ensino central desta seção bíblica de Tiago.
Nas seções anteriores (1.2-18) o assunto central era a necessidade de pedirmos a sabedoria do alto. Na seção atual o escritor disseca mais sobre como devemos usar esta sabedoria na comunidade cristã ou fora dela. Os crentes deveriam se apresentar coerentes com o Evangelho. Na concepção do meio-irmão do senhor é impossível que o discípulo de Cristo tenha um comportamento dobre. De que adianta falar "Deus Pai Todo-Poderoso" e não viver segundo a vontade de Deus Pai? Não é o discurso que determina quem somos, mas a nossa ação.
Vivemos uma geração do discurso vazio: "Tudo posso!", "Sou mais que vencedor", "É só vitória!" Mas estas palavras não passam de discursos pobres, desprovidos de uma consciência oriunda do Evangelho. As pessoas não saberão o tipo de fé ou sabedoria que tem pelo seu discurso, mas pelas suas ações. Se elas falam na hora certa; do modo certo; se em tudo o que fazem aparece o respeito, a ternura, o amor. Virtudes estas intensamente comunicadas ao homem pelo Evangelho. Primeiro ouçamos com atenção! Depois falemos!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
É no aspecto dessa última relação com a fala que a língua é citada nas Escrituras como uma força poderosa. Afirma-se que a morte e a vida estão no seu poder (Pv 18.21). Tiago elabora isso quando se refere à língua como indomável e um mal incontido, cheio de veneno mortal (Tg 3.8) e como fogo, um mundo de iniquidade (3.6). Paulo, por sua vez, refere-se à língua como um instrumento de engano (Rm 3.13), caracterizando o homem não regenerado.
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 3. pag. 933.
Uso apropriado da Língua.
Jesus ensinou que os homens terão de prestar contas, finalmente, de sua vida na terra, incluindo «toda palavra frívola que proferirem». Esse é um pensamento seriíssimo. Ver Mat. 12:36. Se o juízo divino descer a pontos delicados e minuciosos como esse, então o exame que teremos de enfrentar será, realmente, completo! O terceiro capítulo de I Coríntios alude, figuradamente ao juízo a que os crentes serão submetidos. Então as obras inúteis dos homens serão queimadas como palha, feno ou madeira em contraste com aquelas coisas permanentes como o ouro, a prata e as pedras preciosas (capazes de resistir ao teste do fogo de Deus). Um colega de seminário disse de certa feita: «Haverá tanta fumaça em meu julgamento, que ninguém poderá ver os outros sendo julgados» Tudo isso ilustra o quanto precisamos da graça de Deus. O uso da linguagem é uma questão importante. Esta enciclopédia contém um artigo intitulado Linguagem.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 3. Editora Hagnos. pag. 830.
I - PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
1. Pronto para ouvir.
Certa vez, Zenon, um pensador clássico, disse que temos dois ouvidos e uma boca por um simples motivo: para que possamos ouvir mais e falar menos. Por mais que essa ideia, para algumas pessoas seja engraçada, traz uma realidade importante para a nossa vida: Precisamos aprender a controlar melhor o nosso tempo gasto com essas duas atitudes inerentes da nossa natureza: ouvir a falar.
O Ato de Ouvir
Por meio da audição, podemos captar informações que influenciarão nossas vidas. Um toque de corneta pode conduzir uma tropa inteira. Um comício inflamado pode trazer uma revolução.
Uma pregação direcionada pelo Espírito Santo pode trazer salvação a uma pessoa. Portanto, o ato de ouvir pode definitivamente mudar nossa vida.
O ato de ouvir implica a posterior tomada de decisão. Adão e Eva ouviram o conselho de Deus no tocante ao fruto da ciência do bem e do mal, e obedeceram até que ouviram uma opinião contrária, a da serpente, e resolveram acolher os conselhos que os levariam à morte. Ouvir as palavras certas das pessoas certas faz muita diferença.
A fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus. Ouvir o que Ele diz é o primeiro passo para que possamos obedecê-lo. Além de ser um exercício que nos impulsiona à humildade, o ato de ouvir o que Deus nos diz nos dá a certeza de que estamos no caminho que Ele realmente preparou para que seguíssemos.
Ouvir as pessoas também é recomendado por Tiago. Provérbios diz: “Porque com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros” (Pv 24.6). Ao tratar do repasse dos seus ensinos a outros, o apóstolo Paulo recomenda a Timóteo: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2.2). O que Timóteo ouvira de Paulo deveria ser repassado a outros homens que tivessem idoneidade e fidelidade para que não alterassem a mensagem apostólica. Portanto, ouvir a Deus é um dever, e ouvir para aprender com os outros é igualmente importante.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 59-60.
Tg 1.19 A expressão “seja pronto para ouvir” é uma bela maneira de traduzir a ideia de uma audição ativa. Não devemos simplesmente deixar de falar; devemos estar prontos e dispostos para ouvir. Este ouvir com “prontidão” obviamente é feito com discernimento. Devemos examinar o que ouvimos com a Palavra de Deus. Se não ouvirmos, tanto atentamente quanto prontamente, podemos ser levados a todos os tipos de falsos ensinos e enganos.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667.
-...prontos para ouvir...· Em outras palavras, ao invés de exibirem um mau temperamento, forçando sua vontade sobre os outros, os crentes deveriam estar prontos a ouvir e ver os pontos de vista dos outros. (Ver esse conceito, em termos gerais, cm Rom. 12:16). Deve haver uma atitude de mútua condescendência, o que é apenas outra maneira de se falar sobre o amor mútuo cm operação. O amor cristão consiste em cuidarmos dos outros conforme cuidamos de nós mesmos. Aquele que segue essa regra não explode em ira nem anseia por impor sua vontade aos outros.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 28.
Tg 1.19a – “Toda pessoa seja rápida para ouvir”: um dom inconcebivelmente grande, ter a capacidade de ouvir! Sem esse dom seríamos solitários e somente teríamos uma comunhão precária com nosso semelhante. Como realmente sofrem os deficientes auditivos, e que pesado fardo carregam pessoas que nasceram surdas ou então perderam a audição mais tarde! Contudo toda dádiva traz consigo a tarefa de usá-la corretamente. Já no contexto humano geral é importante aprender a ouvir corretamente. Pessoas em posições de liderança têm necessidade disso para que avaliem bem os que cooperam com eles, situando-os no lugar apropriado. É necessário para aqueles que são apenas uma “engrenagenzinha” em um grande empreendimento (e quem não é isso hoje?): se quiserem captar com clareza sua incumbência e preencher adequadamente seu espaço, precisam ter aprendido a ouvir. E se alguém quiser ser uma verdadeira ajuda para outras pessoas na aflição, precisa saber ouvir, atentar para o que é dito ou não. Importante é ser “rápido” no ouvir, ser “todo ouvidos”, sintonizar-se com o outro rápida e integralmente mediante postergação de outras coisas que monopolizam a atenção. No entanto, muitas vezes vale para nós humanos: “Cada um de nós seguia o seu caminho” (Is 53.6). De forma análoga: cada um estava ocupado integralmente consigo mesmo e nem sequer prestava atenção quando outro perguntava, pedia e se lamentava. Jesus, porém, vivenciou a essência e o modo de ser de Deus: “Antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65.24; cf. Jo 5.6; Lc 19.5).
Se já entre humanos é importante ouvir corretamente, é duplamente necessário ser “rápido no ouvir” onde e quando acontece a palavra de Deus, “a palavra da verdade” (v. 18). Ao ouvirmos sua palavra, Deus semeia a nova vida em nós. É assim que ele a nutre, cria espaço para ela e afasta o “inço” que tenta impedir e sufocar essa “plantação” de Deus em nós (Lc 8.11; Mt 13.7,22; 1Co 3.9). Desse modo ele fomenta a nova vida em nós e faz com que amadureça. Cumpre aqui ser sobretudo “rápido para ouvir” (com que nos ocupamos primeiro pela manhã, a Bíblia ou o jornal?) Para filhos de Deus a palavra dele constitui o elemento vital (Lc 2.49).
Contudo, “rápido para ouvir” significa para cristãos também que dêem ouvidos a seres humanos: independentemente de se tratar do serviço de amar ou de testemunhar. Temos de saber o que falta ao outro e quais são suas indagações, pelo que devemos ouvi-lo atentamente. Pedro afirma: “Estai sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15). E Paulo escreve: “Sabei como deveis responder a cada um” (Cl 4.6). Ou seja, pergunta-se e são dadas respostas. Não um “disco” que simplesmente é posto para tocar. Cada cristão vivo é convocado a ser conselheiro espiritual em seu entorno. A premissa básica de todo serviço de aconselhamento é primeiro prestar atenção ao outro.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
I Sm 3.10 Chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. Este foi o quarto e último chamado. As primeiras palavras deste versículo mostram-nos que o Senhor não somente chamou Samuel mediante aquela voz misteriosa, mas também fez sentir a Sua presença. Todavia, tem-se a impressão de que o mesmo havia acontecido nas três vezes anteriores, embora somente aqui isso nos seja dito. Nas ocasiões anteriores, Samuel ouviu mas não interpretou corretamente a voz. E também não tomou consciência da presença divina. Sua experiência, pois, estava crescendo em poder, conforme avançava.
O Quarto Chamado. A voz chamara Samuel pelo nome. Nessa quarta vez, porém, Samuel foi capaz de receber a comunicação tencionada, visto que tinha obedecido às instruções dadas por Eli. Responder diretamente à “voz” permitiu- lhe receber a mensagem diretamente. O texto não indica que a glória shekinah de Deus se tenha manifestado, mas talvez devamos entender que assim sucedeu. Ver no Dicionário o artigo chamado Shekinah. A glória de Deus moveu-se do interior do Santo dos Santos e pôs-se ao lado do leito de Samuel. Foi assim que o Deus infinito condescendeu diante do homem finito. E essa é a própria natureza do drama divino-humano em que o ser humano está envolvido. A maior e mais eficaz de todas as condescendências divinas ocorreu quando o Logos se encarnou e se tornou um homem entre os homens (ver João 1.14).
“Vede o quanto Deus ama s. santidade nos jovens. O menino Samuel foi preferido por Ele, em lugar de Eli, o idoso sumo sacerdote e juiz" (Teodoreto).
“... quando finalmente Samuel respondeu à voz, esta se tornou uma visão" (George B. Caird, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1137.
Finalmente, Samuel foi preparado para receber a mensagem de Deus, não para permanecer com ela, mas para se tornar um profeta íntegro. Para isso, ele teria de anunciá-la e torná-la pública.
1. Eli, percebendo que Samuel tinha ouvido a voz de Deus, deu instruções em como proceder em relação a essa voz (v. 9). Isso foi feito de forma honesta. Embora fosse uma desgraça perceber que o chamado de Deus havia passado por ele e se dirigido a Samuel, ele o instruiu em como proceder diante desse chamado. Se Eli tivesse sido invejoso por causa da honra dada a Samuel, teria feito todo o possível para privá-lo disso. Uma vez que não tinha percebido essa voz, Eli poderia ter pedido para Samuel voltar a se deitar e dormir, inferindo que se tratava somente de um sonho. No entanto, Eli não era esse tipo de pessoa. Ele deu o melhor conselho possível ao menino, para o favorecimento de sua promoção. Assim, os mais idosos deveriam, sem ressentimento, fazer o possível para auxiliar os mais jovens que estão sendo promovidos, mesmo que percebam que poderão ser obscurecidos e ofuscados por eles. Jamais deveríamos abster-nos de informar ou instruir aqueles que ocuparão o nosso lugar (Jo 1.30). A instrução que Eli deu a Samuel foi que, quando Deus o chamasse novamente, dissesse: Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve. Ele deve autodenominar-se de servo de Deus e desejar conhecer as intenções de Deus. “Feda, Senhor, fala comigo, fala agora”. E Samuel deve estar preparado para ouvir e obedecer: o teu servo ouve. Observe: Podemos esperar que Deus fale conosco quando nos dispomos a ouvir o que Ele tem a dizer (SI 85.8; Hc 2.1). Quando nos dispomos a ler a Palavra de Deus e a prestar atenção à sua pregação, devemos estar prontos a nos submeter à sua imponente luz e poder: Fala, SENHOR, porque o teu servo ou vê.
2. Parece que Deus falou pela quarta vez de uma maneira um pouco diferente. Embora o chamado fosse, como das outras vezes, pelo seu nome, dessa vez Ele veio e ali esteve, que infere que agora havia alguma manifestação visível da glória divina a Samuel, uma visão que estava diante dele, como ocorreu com Elifaz, embora não conhecesse a sua feição (Jó 4.16). Agradou a Samuel saber que não era Eli que o chamava; porque agora viu a voz de quem falava com ele (Ap 1.12). Dessa vez, ele também ouviu o seu nome duas vezes: Samuel Samuel, como se Deus se deleitasse em mencionar o seu nome, ou de sugerir que agora deveria perceber quem estava falando com ele. Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi (SI 62.11). Era uma honra para Samuel saber que carecia bem aos olhos de Deus conhecê-lo pelo seu nome (Êx 33.12); assim, o seu chamado foi poderoso e eficaz quando o chamou pelo nome, tornando o assunto particular, como ocorreu com Saído a caminho de Damasco. Da mesma forma, Deus chamou a Abraão pelo nome (Gn 12.1). Samuel respondeu, como havia sido instruído: Fala, porque o teu servo ouve-. Observe: Desde cedo, deveríamos colocar palavras agradáveis na boca das crianças e expressões de piedade e devoção. Dessa forma, elas podem sei' preparadas para familiarizar-se melhor com as coisas divinas. Ensine aos mais novos o que devem dizer, porque nada podem pôr em boa ordem, por causa das trevas (Jó 37.19). Samuel não se levantou e saiu correndo como da outra vez, quando achava que Eli o chamava, mas ficou deitado em silêncio. Quanto mais calmos e tranquilos nossos espíritos estiverem, tanto mais bem preparados estaremos para as descobertas divinas. Permita que todos os pensamentos e paixões tumultuosos sejam refreados e tudo esteja quieto e sereno na alma; então estaremos prontos para ouvir a voz de Deus. Tudo deve estar quieto quando Ele fala. Mas observe: Samuel deixou de lado uma palavra. Ele não disse: Fala, Senhor, mas somente: Fala, porque o teu servo ouve, talvez, como sugere o bispo Patrick, devido à incerteza se, de fato, era Deus que estava falando com ele. No entanto, por meio dessa resposta: Fala, porque o teu servo ouve, foi aberto o caminho para a mensagem que ele deveria receber. Assim, Samuel conheceu as palavras de Deus e as visões do Todo-poderoso, e isso ocorreu antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do SENHOR (v. 3). Alguns dos escritores judeus colocam um sentido místico nessas palavras. Antes da queda de Eli, e o desaparecimento do Urim e Tumim, por algum tempo, Deus chamou Samuel e transmitiu um oráculo a ele. Por isso, entre os doutores, eles utilizam uma observação: nasce o sol, e põe-se o sol (Ec 1.5), isto é, eles dizem, antes que Deus faça o sol se pôr sobre um justo, ele faz o sol de outro justo nascer. Smith ex Rimchi.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 229-230.
2. Tardio para falar.
Falar é um presente de Deus. Poder exprimir nossas opiniões, desejos e anseios não apenas é uma dádiva divina, mas também exige uma grande responsabilidade, pois nossas palavras podem tanto edificar vidas quanto podem também destruí-las. Por isso, é necessário ter responsabilidade com aquilo que falamos.
Nossas palavras devem acompanhar nossas atitudes. Como servos de Deus, somos chamados a usar nossas palavras de forma sábia e edificante. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que o ouvem” (Ef 4.29). Mas também somos chamados a ter um profundo compromisso entre o que falamos e o que vivemos. De nada adianta ter um discurso ortodoxo se nossa prática de vida não corresponde às palavras que falamos. Se levarmos a sério isso, concluiremos que é melhor ficar calados até que nossas atitudes sejam coerentes com nossas palavras.
Deus não nos impede de falar, mas pede que o façamos de forma coerente e com sabedoria. Lembremo-nos do conselho de Provérbios 13.3: “o que guarda sua boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios tem perturbação”.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 61.
Tg 1.19 Ser pronto para ouvir e tardio para falar podem ser interpretados em conjunto, como dois lados da mesma moeda. A lentidão em falar significa falar com humildade e paciência, não com palavras ásperas nem tagarelando sem parar. O falar constante impede que a pessoa seja capaz de ouvir. A sabedoria nem sempre é ter algo a dizer; ela envolve o ouvir cuidadosamente, o refletir piedosamente, e o falar mansamente. Quando falamos demais e ouvimos pouco, mostramos aos outros que pensamos que as nossas ideias são muito mais importantes do que as deles. Tiago nos adverte sabiamente para revertermos este processo. Precisamos colocar um cronômetro mental nas nossas conversas e observar o quanto falamos e o quanto ouvimos. Quando as pessoas falam conosco, elas sentem que os seus pontos de vista e as suas ideias têm valor?
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 667-668.
Abandone a Pressa no Falar (1.19abc)
Hayes nos lembra que Tiago não tem muito a dizer a respeito de pecados da carne, tão característicos dos gentios do primeiro século. Em vez disso ele nos adverte em relação aos pecados que os judeus estavam mais inclinados a praticar — orgulho, impaciência e outros pecados do temperamento e da língua.16 Dessa forma, o apóstolo cita três preceitos que provavelmente eram conhecidos aos seus leitores: Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar (v. 19). Visto que ele está prestes a apresentar uma advertência severa, Tiago inicia suas palavra com uma expressão de profunda afeição e nela identifica-se com os seus ouvintes — meus amados irmãos. Parece mais certo considerar o ouvir e o falar em um sentido geral, em vez de restringir o significado (como alguns fazem) ao ouvir e falar a mensagem do evangelho. Tiago mais tarde (w. 21-25) trata especificamente do relacionamento do homem com a “palavra” salvadora.
Zeno ressalta que um homem tem dois ouvidos mas somente uma boca; ele, portanto, deveria ouvir duas vezes mais do que falar. Há uma conexão íntima entre o ouvir e o falar; também entre o falar e a ira. Aquele que ouve mais atentamente entende melhor o seu próximo; entender leva a um falar ponderado e a uma resposta branda que “desvia o furor”. O falar impensado, por outro lado, com frequência produz a palavra pesada que “suscita a ira” (Pv 15.1).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 161.
Tg 1.19b Ao “rápido para ouvir” Tiago contrapõe: cada um seja “vagaroso para falar”. Afinal, também é necessário que, enquanto prestamos atenção no outro, já reflitamos sobre uma resposta que o ajude e o leve adiante. Mas seria errado tentar dar o recado ao outro precipitadamente e às pressas. O outro não se sentiria levado a sério: “Ora, ele nem sequer se envolve com minha causa.” Um cristão torna-se mais “vagaroso para falar” pelo fato de ao mesmo tempo conversar simultaneamente com seu Senhor: “Ó Senhor, o que devo dizer agora? Será correto o que penso? Por favor, concede-me agora a palavra certa. Autoriza-me. Usa a minha palavra, e até mesmo fala pessoalmente com essa pessoa.” Em Jesus presenciamos como, durante o diálogo com seus semelhantes, ele estava ao mesmo tempo conversando com seu Pai, atento para a vontade e o direcionamento dele (Jo 2.4; 11.6,41s). Ser “vagaroso para falar” importa principalmente também quando estamos “sob a palavra”. Sem dúvida existe igualmente o diálogo em torno da palavra: “Antes, direis, cada um ao seu companheiro e cada um ao seu irmão: Que respondeu o Senhor? Que falou o Senhor?” (Jr 23.35). Não obstante, as muitas discussões constituem hoje um perigo. Com frequência não conseguimos ouvir ao mesmo tempo em que somos capazes de olhar por acima e para além do mensageiro, perguntando-nos: “Senhor, que pretendes me dizer agora?” – Importa “falar vagarosamente”, sob certas circunstâncias e em determinado sentido, até mesmo perante Deus. Também para orar precisamos de silêncio se quisermos rogar no sentido da vontade e dos alvos de Deus e, consequentemente, sob a promessa plena (1Jo 5.14).
Porém, ser “vagaroso para falar” de forma alguma significa que não devamos nunca falar, principalmente quando se trata de testemunhar em favor de nosso Senhor. Na Bíblia não consta o ditado “Falar é prata, e silenciar é ouro”.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Sl 141.3 Põe guarda, Senhor, à minha boca. Os pecados da língua certamente são teimosos e universais em sua prática. Os salmos dizem muito sobre o uso apropriado da linguagem. É possível que, primariamente, este pedido se refira a declarações desleais acerca de Deus e de Seus caminhos, com a aprovação (verbal) do que os pecadores diziam e faziam. Existem pecados de blasfêmia, mentira, perjúrio, maldição, calúnia e muitos outros, que são perpetuados pelos homens que falam demais e não resguardam a língua. Quanto ao uso da fala e o uso apropriado da linguagem, ver Sal. 5.9; 12.2; 15.3; 17.3; 34.12; 35.28; 36.3; 39.9; 55.21; 64.4; 66.17; 73.9; 94.1; 101.5; 109.2; 119.172; 120.3,4; 139.4 e 141.3. Ver no Dicionário o artigo chamado Linguagem, Uso Apropriado da, que oferece declarações e poesias ilustrativas.
Guarda. A alusão, neste caso, é à guarda policial postada nos portões das cidades e nas muralhas, para manter fora da cidade tudo o que era daninho.
A porta dos meus lábios. Cf. Miq. 7.5. Xenócrates dizia: “Tenho-me arrependido muitas vezes por ter falado, mas nunca por ter guardado silêncio”. Ver Sal. 39.1,9.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2501.
Sl 141.3 Davi temia o pecado e implora a Deus para ser guardado de pecar, sabendo que sua oração só seria aceita se tivesse o cuidado de vigiar contra o pecado. Devemos ser zelosos com a graça de Deus em nós tanto quanto com seu favor conosco. 1. Ele ora para não ser surpreendido em nenhuma palavra pecaminosa: “Põe, 6 Senhor, uma guarda à minha boca (v. 3), já que a natureza fez de meus lábios a porta para minhas palavras, que a graça guarde essa porta, que não seja permitido que nenhuma palavra que, de alguma maneira, possa tender a desonrar a Deus ou a ferir os outros saia por ela”. Os homens bons conhecem o mal da língua pecaminosa e, como são propensos a ela (quando os inimigos nos provocam, corremos o risco de deixar nosso ressentimento ir longe demais e de falar irrefletidamente, como fez Moisés, apesar de ser o mais manso dos homens), por isso eles são determinados com Deus para que os impeça de falar algo impróprio, sabendo que, sem a graça especial de Deus, a vigilância e a determinação deles mesmos não são suficientes para governar sua língua, muito menos seu coração. Temos de enfrear [...] a [mossa] boca; mas isso só não adiantará: temos de orar a Deus para que a guarde. Neemias orou para o Senhor quando pôs guarda contra seus inimigos, devemos fazer o mesmo, pois sem Ele o guarda andaria em vão.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 692.
3- Controle a sua ira.
Tiago nos incentiva a ser pessoas que demoram a irar-se. Ele não diz que isso é fácil. Irar-se é uma das coisas mais simples do mundo. Basta que nos deparemos com alguma adversidade que nos impeça de realizar certos planos, ou com alguma situação que aos nossos olhos seja injusta.
A ira é uma obra da Carne. Ela tem a tendência de despertar as reações mais terríveis no ser humano. Uma pessoa irada age de uma forma que não agiria se estivesse em seu juízo perfeito.
A ira da qual Tiago fala está vinculada com o ato de ouvir e falar: “... todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1.19b, 20). Pessoas que falam muito tendem a errar muito, e pessoas iradas costumam destilar raiva e ódio em suas palavras.
Tiago encerra seu pensamento de forma interessante: “A ira do homem não opera a justiça de Deus”. Além de falar sobre ouvir muito e falar pouco, ele menciona dois elementos a mais em seu discurso: a ira humana e a justiça divina.
Esses dois elementos citados no mesmo verso estão extremamente distantes um do outro. A ira do homem pode ser justa aos seus próprios olhos, mas isso não significa que ela é justa aos olhos de Deus. E um momento de indignação pode colocar muitas coisas a perder na vida de um cristão além de não garantir a bênção de Deus. O Eterno não se deixa levar pela raiva humana, ainda que essa aparente ser lícita. E se a ira humana fosse o referencial para que Deus agisse, não faltaria julgamento divino para todas as pessoas. Por qual motivo Deus não age de acordo com a sua justiça quando somos ofendidos, humilhados ou perseguidos?
Primeiro, porque Ele é misericordioso. Mesmo os nossos ofensores podem ser alcançados pela graça de Deus, da mesma forma que nós fomos alcançados. Segundo, o padrão de justiça divina não é como o nosso. Temos a tendência de ser imediatistas, mas Deus tem seu próprio tempo para agir em nosso favor e para julgar as injustiças com as quais somos acometidos. E terceiro, Deus espera que controlemos nossas reações emocionais. Deus sabe que tendemos à ira, mas Ele espera que não sejamos dominados por ela.
Pregadores irados provavelmente não conseguirão alcançar almas para o Reino de Deus. Professores irados certamente não conseguirão repassar seus ensinos, e crentes iracundos não conseguirão refletir a obra de Deus em suas vidas. Deus tem seu próprio senso de justiça, e ele em nada se parece com o nosso. Isso pode nos parecer injusto, mas precisamos aprender a confiar em Deus e em sua justiça.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 61-62.
Tg 1.19 Nós também devemos ser tardios para nos irar. A ira fecha as nossas mentes à verdade de Deus (veja um exemplo em 2 Rs 5.11; veja também Pv 10.19; 13.3; 17.28; 29.20). É a ira que explode quando os nossos egos estão inflamados. E exatamente o tipo de ira que nasce quando falamos muito depressa e não ouvimos o suficiente!
Quando a injustiça e o pecado acontecem, nós devemos ficar irados, porque outros estão sendo feridos. Mas não devemos ficar irados quando deixamos de “ganhar” uma discussão, ou quando nos sentimos ofendidos ou negligenciados. A ira egoísta nunca ajuda ninguém (veja Ec 7.9; Mt 5.21-26; Ef 4.26).
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668.
Abandone a Ira (1.19d,20)
A ira quase sempre machuca tanto o nosso próximo como a nós mesmos. A ira carnal sempre machuca. Portanto, todo o homem deve ser tardio [...] para se irar (v. 19). Ele deve abandonar a ira que não opera a justiça de Deus (v. 20). A justiça de Deus significa conduta certa, i.e., fazer o que Deus quer (cf. Mt 6.33). A ira carnal não só nos leva a uma conduta sem amor e a desagradar a Deus, mas esse comportamento irado em um cristão professo levanta dúvida na mente dos observadores e, dessa forma, diminui o progresso do Reino de Deus. Poteat comenta: “A única ira que o homem pode ter é uma ira que Cristo sentiu (cf. Mc 3.5). Esse tipo de ira não é a expressão de uma petulância particular, mas de um ressentimento público contra o comportamento e as ações que levam outros a sofrer sem culpa da pessoa irada”.
Robertson esboça a verdade do versículo 19 da seguinte forma: 1) Ouvir brilhante (v. 19a); 2) Silêncio eloquente (v. 19b); 3) Ira insensível (v. 19c-f).
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 161-162.
Tg 1.19c “Vagaroso para a ira”: a palavra deve ter em vista uma situação específica. Em Israel, a “palavra da verdade” era comunicada p.ex. nas sinagogas. Nelas qualquer israelita adulto podia fazer uso da palavra. Mensageiros de Jesus diziam, agora, que as promessas de Deus já estariam cumpridas em grande medida, pelo fato de Deus ter enviado o Messias, Jesus de Nazaré, para dentro da condição humana. Isso era boa notícia, evangelho. Acontece que isso inflamava os ânimos (At 13.45ss; 18.6). As testemunhas eram interrompidas. Cortava-se a palavra delas. Os ouvintes indignavam-se. A exortação de Tiago de não se irar rapidamente, refere-se antes de tudo à advertência de não cortar a palavra de Deus, contradizendo-a, revoltando e opondo-nos a ela.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
Paralelo a Lucas 19.45 A Purificação do Templo (Mt 21.12-13)
Esse episódio é contado por Mateus imediatamente após a Entrada Triunfal, como se tivesse acontecido no mesmo dia. Marcos 11.15-19 informa os detalhes, observando que a purificação aconteceu em uma segunda-feira. Esse é outro exemplo do hábito de Mateus descrever duas narrativas em conjunto, colocando-se na posição de um observador. Nesse caso, Lucas acompanhou Mateus (Lc 19.45-48).
João registra uma purificação do Templo (Jo 2.13-17) em uma ocasião próxima ao início do ministério de Cristo. Os três Sinóticos (cf. Mc 11.15-19; Lc 19.45-48) descrevem um evento semelhante no início da Semana da Paixão. A maioria dos estudiosos entende que não houve duas purificações. Porém, Alfred Plummer diz: “Não há nada de incrível em duas purificações”.50 E Salmon escreve: “Estamos à vontade para aceitar o relato de João de que o nosso Senhor fez seu protesto contra a profanação do Templo em uma visita anterior àquela Casa Sagrada, e podemos acreditar que depois de uma ausência de um ano ou mais, ao retornar com um grupo de discípulos da Galileia, Ele fizesse cumprir as suas exigências com ainda mais rigor”.
A purificação do Templo é descrita de forma vívida. Jesus expulsou todos os que vendiam e compravam no templo (12) - hieron, a “Área do Templo”, compreendia cerca de vinte e cinco acres. No Pátio dos Gentios havia um mercado onde ovelhas e bois eram vendidos para os sacrifícios (cf. Jo 2.14). Como a Lei especificava que esses animais deveriam ser “sem mácula” (Ex 12.5) era mais seguro comprá-los no mercado do Templo que era dirigido por parentes do sumo sacerdote. Tudo que fosse comprado ali seria aprovado. Da mesma forma, seria inconveniente para os peregrinos da Galileia trazer animais em uma viagem tão longa. Aqueles que eram demasiadamente pobres para oferecer uma ovelha tinham permissão de substituí-la por uma pomba (Lv 12.8). Todo o dia era realizada uma animada venda desses animais.
Os cambistas também colhiam seus frutos. Todo judeu adulto tinha que pagar uma taxa anual de meio siclo ao Templo (cf. 17.24). Mas esse pagamento deveria ser feito com a moeda fenícia. Como o dinheiro que os judeus usavam habitualmente era grego ou romano, isso queria dizer que a maioria das pessoas precisava trocar o seu dinheiro. Os sacerdotes tinham permissão de cobrar algo em torno de 15 por cento para fazer essa troca. Edersheim acredita que somente essa taxa poderia alcançar uma soma entre 40.000 a 45.000 dólares por ano, isto é, uma renda exorbitante naquela época.
Jesus lembrou aos transgressores o que estava escrito nas Escrituras (13): A minha casa será chamada casa de oração (uma citação de Isaías 56.7). Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões (citação de Jeremias 7.11) O texto grego diz “uma caverna de salteadores”. Essa frase devia ser muito familiar aos judeus do primeiro século.
A condenação feita por Cristo aos comerciantes do mercado do Templo, chamando-os de “ladrões” ou “salteadores” encontra sólido suporte nos escritos rabínicos. Eles falam de “Bazares dos filhos de Anás” - o antigo sumo sacerdote que foi sucedido por cinco dos seus filhos, e cujo genro, Caifás, era o sumo sacerdote nessa época. Edersheim chama atenção para a declaração de que “o Sinédrio, quarenta anos antes da destruição de Jerusalém [isto é, no ano 30 d.C., o ano da Crucificação], transferiu seu local de reunião do Pátio das Pedras Lavradas (no lado sul do Pátio dos Sacerdotes) para os Bazares e, em seguida, para a Cidade”.
Pouco tempo depois, a “indignação popular, três anos antes da destruição de Jerusalém, destruiu os Bazares da família de Anás”. A gravidade da situação está refletida nessa declaração: “O Talmude também registra a maldição que um renomado rabino de Jerusalém (Abba Shaul) pronunciou sobre as famílias dos sumo sacerdotes (inclusive a de Anás) que eram ‘eles mesmos os sumo sacerdotes, seus filhos os tesoureiros, seus genros tesoureiros auxiliares, enquanto os seus servos batiam no povo com varas”.
A purificação do Templo foi o segundo ato messiânico de Jesus na Semana da Paixão. Ela representava uma sequência apropriada à sua recepção como o “Filho de Davi” na Entrada Triunfal, e era o cumprimento da profecia expressa em Malaquias 3.1-3.
Uma leitura cuidadosa dos quatro relatos sobre a purificação do Templo não dará qualquer suporte à ideia de que Jesus usou de violência física contra as pessoas, ou roubou-as de suas posses. Ele simplesmente fez com que os homens - com seus pertences-se retirassem da área sagrada.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Mateus. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 145-146.
Mt 21.12,13 O sumo sacerdote tinha autorizado um mercado com comerciantes e cambistas que funcionava exatamente no pátio dos gentios, o imenso pátio externo do Templo. O pátio dos gentios era o único lugar em que os gentios convertidos ao judaísmo poderiam adorar. Mas o mercado enchia o espaço reservado para a sua adoração com comerciantes, de modo que estes estrangeiros, que tinham viajado longas distâncias, achavam impossível adorar. O caos naquele pátio deve ter sido tremendo. Os cambistas trocavam todas as moedas internacionais pelas moedas especiais do Templo - o único dinheiro que os comerciantes aceitavam. Os cambistas faziam grandes negócios durante a Páscoa com aqueles que vinham de nações estrangeiras. A taxa de câmbio inflacionada frequentemente enriquecia os cambistas. E os preços exorbitantes dos animais tomavam os comerciantes ricos. Como, tanto aqueles que compravam, quanto aqueles que vendiam, estavam desobedecendo os mandamentos de Deus com respeito aos sacrifícios, Jesus expulsou todos do Templo. Esta era a segunda vez que Jesus limpava o Templo (veja João 2.13-17). Jesus enfureceu-se porque o lugar de adoração a Deus tornara-se lugar de extorsão e barreira aos gentios que desejavam adorar.
Jesus citou Isaías 56.7 e usou essa passagem para explicar que o Templo de Deus deveria ser uma casa de oração, mas os comerciantes e os cambistas o haviam convertido em um covil de ladrões.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 126.
Lc 19.45 O zelo que Jesus mostrou pela purificação do Templo. Embora ele devesse ser destruído dentro de pouco tempo, não era motivo para que não se cuidasse dele, enquanto isto.
1. Cristo o limpou daqueles que o profanavam: “Entrando no Templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam”, v. 45. Com isto (embora Ele fosse representado como um inimigo do templo, e este foi o crime de que Ele foi acusado diante do sumo sacerdote), Ele demonstra que tinha um amor pelo Templo mais verdadeiro do que aqueles que tinham a mesma veneração pelo seu corbã, o seu tesouro, como se fosse algo sagrado, pois a sua glória estava mais na sua pureza do que na sua riqueza. Cristo deu razões para desalojar os mercadores do Templo, v. 46. O Templo é casa de oração, consagrado para a comunhão com Deus: os compradores e vendedores fizeram dele um covil de salteadores, pelos negócios fraudulentos que eram realizados ali, o que, de nenhuma maneira, devia ser permitido, pois seria uma distração para aqueles que vinham até ali para orar.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 695.
Ef 4.26,27 Outra característica da antiga natureza que tem que ser descartada é o mau humor, ou um estilo de vida caracterizado pela ira. As palavras “irai-vos e não pequeis” são tiradas de Salmos 4.4. A Bíblia não diz que não devemos nos irar, mas ela mostra que é importante controlarmos adequadamente a nossa ira. Não devemos ceder aos nossos sentimentos de ira ou permitir que eles nos levem ao orgulho, ódio, ou hipocrisia. Jesus Cristo enfureceu-se com os mercadores no Templo, mas esta era uma ira justa e não o levou a pecar. Os crentes devem seguir o exemplo de Jesus. Devemos reservar nossa ira para quando vermos Deus desonrado ou as pessoas tratadas injustamente. Se ficarmos irados, devemos fazê-lo sem pecar. Para fazer isso, devemos lidar com nossa ira antes que o sol se ponha. De acordo com o livro de Deuteronômio, o pôr-do-sol é a hora em que todo o mal contra Deus e contra os outros deve ser corrigido (Dt 24.13,15).
A ira que é deixada ardendo lentamente e queimando ao longo do tempo pode, por fim, explodir em chamas e dar um poderoso ponto de apoio para o diabo, fazendo com que as pessoas pequem, ao se tornarem amarguradas e ressentidas. E muito melhor lidar com a situação imediatamente; talvez a admoestação anterior, para se falar a verdade carinhosamente, possa resolver o problema.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 340.
Ef 4.26 Paulo fala sobre a ira (4.26,27). “Quando sentirdes raiva, não pequeis; e não conserveis a vossa raiva até o pôr do sol; nem deis lugar ao Diabo.” Há dois tipos de raiva: a justa (4.26) e a injusta (4.31). Precisamos sentir raiva justa: a ira de Wilberforce contra a escravidão na Inglaterra é um exemplo de raiva justa. A raiva de Moisés contra a idolatria é outro exemplo clássico. A raiva de Lutero contra as indulgências é um dos mais claros exemplos desse ensinamento de Paulo. A raiva de Jesus no templo ao expulsar os cambistas é o exemplo por excelência desse princípio bíblico.
Se Deus odeia o pecado, seu povo também deve odiá-lo. Se o mal desperta sua raiva, também deve despertar a nossa (SI 119.53). Ninguém deve ficar raivado a não ser que esteja raivado contra a pessoa certa, no grau certo, na hora certa, pelo propósito certo e no caminho certo.
Paulo qualifica sua expressão permissiva sentirdes raiva com três negativos: 1) “Não pequeis”. Devemos nos assegurar de que nossa raiva esteja livre de orgulho, despeito, malícia ou espírito de vingança; 2) “Não conserveis a vossa raiva até o pôr do sol”. Paulo não está permitindo a você ficar com raiva durante um dia, ele está exortando a não armazenar a raiva, pois pode virar raiz de amargura; 3) “Nem deis lugar ao Diabo”. O diabo gosta de ficar espreitando as pessoas zangadas para tirar proveito da situação, como fez com Caim.
Jay Adams, em seu livro O conselheiro capaz, fala sobre duas maneiras erradas de lidar com a raiva: a primeira delas é a ventilação da raiva. Há pessoas que são explosivas, que atiram estilhaços para todos os lados, ferindo as pessoas com seu destempero emocional. A segunda maneira errada de lidar com a raiva é o congelamento dela. O indivíduo não a joga para fora, mas para dentro. O resultado disso é a amargura. A solução para o congelamento da raiva é o perdão. E espremer o pus da ferida até o fim, fazendo uma assepsia da alma, uma faxina da mente, uma limpeza do coração.
LOPES, Hernandes Dias. EFESIOS Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 122-123.
Ef 4.26 Também a instrução sobre a ira é dada no contexto de uma citação literal do Sl 4.4: “Quando estais irados, não pequeis.” Com essas palavras Paulo lembra, em tom de exortação, a rápida transição da ira para o pecado. A convivência (dentro e fora da igreja) gera múltiplos motivos para a ira (cf. também Tg 1.19s – possivelmente por causa de opiniões opostas na discussão doutrinária). Enquanto o cristão deve ser “tardio para a ira” (Tg 1.19), no caso do perdão é preciso ter pressa: “O sol não se ponha sobre a vossa ira.” A exortação para afastar-se rapidamente do escândalo visa sobretudo combater o efeito devastador de uma briga de longa duração: “Paulo exige que acabemos sem delongas com a ruptura da comunhão. Rancor envelhecido é difícil de apagar. Se para restabelecer a comunhão for necessária uma negociação com o irmão, devemos fazê-la de imediato. Se conseguimos solucionar a questão sem ela, devemos perdoar imediatamente. A mágoa torna-se bem mais perigosa quando é arrastada de um dia para o outro. Também essa frase mostra, da mesma forma como aquela sobre o extermínio da mentira, que para Paulo nssa nossa preocupação central deve ser a comunhão concorde com os irmãos, em relação à qual qualquer outro interesse passa para o segundo plano.
Por trás de tudo isso está a reinterpretação do 5º mandamento no Sermão do Monte por Jesus (Mt 5.21ss): segundo ela, “irar-se contra o irmão” (o mesmo termo de Ef 4.26) é uma transgressão da proibição de matar e torna culpado de condenação. Isso é enfatizado pelas ofensas decorrentes da ira (“tolo”, “inútil”), tornando o homem réu do mais alto tribunal humano ou divino (“Sinédrio”, “fogo do inferno”). Paulo, portanto não arrola arbitrariamente instruções éticas, mas argumenta no contexto das premissas dos Dez Mandamentos, que obtiveram a interpretação decisiva nos ensinamentos de Jesus. Da mesma forma como os comentários sobre o oitavo (mentira) e quinto (matar – ira) mandamentos seguem-se, nos v. 28 (roubar) e 5.3 (adultério - devassidão e avidez), exortações ligadas ao sétimo, sexto, nono e décimo mandamentos.
Eberhard Hahn. Comentário Esperança Efésios. Editora Evangélica Esperança.
II - PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
1. Enxertai-vos da Palavra (21).
Tiago fala que devemos receber com mansidão a Palavra que em nós foi colocada. Mas antes disso ele diz que é preciso rejeitar toda a imundícia e acúmulo de malícia. O que isso significa? Que além de receber a Palavra de Deus, é preciso rejeitar tudo o que a Palavra de Deus condena. É uma questão de cumulatividade (recebo a Palavra de Deus e rejeito o pecado). Nossa tendência é acumular imundícia e malícia por causa de nossa natureza pecaminosa, mas esses dois elementos devem ser substituídos pela Palavra de Deus e seus efeitos em nossas vidas. A expressão “malícia”, no grego, é kakia, melhor traduzida como “maldade”. Em todo o contexto, a maldade não pode conviver com um coração sábio e dominado pelos princípios da Palavra de Deus. Ou praticamos o que Deus diz ou privilegiaremos a maldade e as demais características rejeitadas pelo Senhor.
A recompensa por essa atitude é a salvação da alma. Aqui encontramos mais uma característica dos escritos de Tiago: a prática que espelha a salvação. Mais uma vez, Tiago mostra que as obras são um reflexo (e não o caminho) da salvação.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 63.
Tg 1.21 Devemos rejeitar toda imundícia e acúmulo de malícia. Segundo o texto grego, esta é uma ação definitiva. Por que devemos fazer isto? O progresso na nossa vida espiritual não pode ocorrer a menos que vejamos o pecado como ele é, deixemos de justificá-lo, e decidamos rejeitá-lo. A imagem das palavras de Tiago aqui nos apresenta livrando-nos dos nossos maus hábitos e atos como quem se despe de roupas sujas. Depois de “nos livrarmos”, precisamos receber com mansidão a palavra de Deus, procurando viver de acordo com ela, porque ela foi enxertada em nossos corações e se torna parte do nosso ser. Deus nos ensina desde as profundezas das nossas almas, com o ensino do Espírito e com o ensino de pessoas orientadas pelo Espírito. O solo no qual a palavra é plantada deve ser acolhedor, para que ela possa crescer. Para tornar o nosso solo acolhedor, precisamos desistir de quaisquer impurezas nas nossas vidas. A Palavra de Deus torna-se uma parte permanente de nosso ser, orientando-nos todos os dias. A palavra implantada é suficientemente forte para poder salvar a nossa alma. Quando absorvemos as características ensinadas na Palavra, estas se expressam no nosso modo de viver. As provações e as tentações não podem nos derrotar se estivermos aplicando a verdade de Deus às nossas vidas.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668.
Abandone todo o Mal (1.21)
Pelo que dá a entender que há uma ligação com o texto anterior. Tiago acabou de falar da ira e de sua relação com a vontade de Deus. Sua mente agora se move agora para o contexto mais amplo da vontade de Deus e o mal do homem. Toda imundícia e acúmulo de malícia não transmite uma verdade clara para o leitor de hoje. Phillips traduz esse texto da seguinte maneira: “Livrando-se, portanto, de toda impureza e de todo tipo de mal”. ANASB traduz: “Colocando de lado toda imundícia e toda impiedade”. Rejeitando (apothemenoi) está no tempo aoristo e sugere uma clara quebra com tudo que é contrário à vontade de Deus. Robertson compara o significado deste texto com a figura de Paulo de despojar-se do “velho homem” de pecado e revestir-se do “novo homem” de justiça (Ef 4.2; Cl 3.8). Ele comenta: “Certamente o mal aumenta se não for checado e arrancado pela raiz”. Acúmulo de malícia (kakia, maldade) não deve ser entendido como “mais do que necessário”. A maldade “por ínfima que seja já é excesso”.
O despojar de todo o mal é a condição para a recepção subsequente da palavra [...] enxertada (melhor, “implantada”, NVI). Moffatt apresenta a figura da semente e do solo. Ele interpreta: “Prepare um solo de modéstia humilde para com a Palavra que lança suas raízes no interior com poder para salvar a sua alma”. Knowling observa que ‘“a palavra’ descrita dessa forma é raramente distinguível do Cristo que habita em nós”. Essa é a palavra a qual pode salvar a vossa alma. “Ela traz uma salvação presente aqui e agora (Jo 5.34); é uma nova vida de pureza. Ela ajuda na salvação progressiva do homem completo na sua batalha com o pecado e no crescimento na graça (2 Tm 3.15). Ela leva à salvação final no céu com Cristo em Deus (1 Pe 1.9). O evangelho é o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16)”.
A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 162.
Tg 1.21 “Por isso, despojai-vos de toda impureza e acúmulo de maldade”: precisamos permitir que “passo a passo” nos seja tirada publicamente a velha natureza e dada a nova. Unicamente na proporção em que estivermos dispostos a abrir mão do antigo, o novo terá espaço. Somente na medida em que os “brotos selvagens” são tirados, terão espaço os “ramos nobres”. Também o acúmulo de conhecimento por meio da palavra de Deus está relacionado à disposição de obedecer, assim como inversamente a falta de capacidade de entendimento está ligada à falta de obediência (Jo 7.17; Ef 4.18). Hoje (como em certa medida também já em épocas passadas) várias coisas podem se opor à palavra de Deus nas pessoas, como “tampões de ouvidos”: vínculos com o ocultismo, indisciplina sexual, endeusamento das riquezas. Tudo o que podemos fazer é rogar que também hoje sejam abertos os ouvidos e o coração de muitos (At 16.14). – Os citados empecilhos também podem reaparecer ou surgir pela primeira vez em pessoas há muito chamadas por Deus, impedindo que a nova vida chegue ao devido avanço, fortalecimento e amadurecimento. Por isso também há espaço no seio da igreja, como outrora nos dias de Tiago, para a exortação: “Despi-vos de toda sujeira, e do mal de todo tipo.” “Desmascara tudo e consome o que não for puro em tua luz” (G. Tersteegen).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. Praticai a Palavra (22-24).
Mais do que ter a Palavra em nosso coração, é preciso exteriorizar o evangelho em nossas vidas. E curiosa a observação de Lawrence O. Richards para esta parte do texto bíblico:
Tiago argumenta que olhar para a Palavra de Deus e não agir de acordo como que vemos ali significa que o que encontramos ali nas Escrituras não tem significado para nós.
Essa palavra, “significado”, indica importância. Se lemos e ouvimos a Palavra de Deus e não praticamos o que ela diz estamos dizendo que o que Deus falou não tem importância alguma para nossas vidas. Se o que Ele falou não é importante, podemos entender também que Ele mesmo não é importante para nós. Pensemos nisso da próxima vez que formos ler ou ouvir a Palavra de Deus.
Tiago nos desafia em seu escrito a ser praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes. Primeiro ouvimos o discurso e depois o praticamos. Não é razoável ler, estudar e ouvir a Palavra de Deus se não temos o objetivo de seguir o que ela nos apresenta. Se temos respeito pela Palavra, é imperativo obedecê-la.
Tiago parece um mestre que ensina, lembra e relembra a seus alunos a que tenham uma vida voltada para atitudes que espelham a salvação. É como se a expressão “pratique a Palavra” fosse uma senha para uma questão difícil da uma prova. Para que façamos a diferença neste mundo, pratiquemos a Palavra. Para que aprendamos a domar nossa língua, pratiquemos a Palavra. Para nos afastarmos da maldade e de toda impureza, pratiquemos a Palavra. Para sermos sábios, pratiquemos a Palavra. A prática, como diz um ditado, conduz à perfeição, e no nosso caso, nos aproxima cada vez mais de Deus.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 64-65.
Tiago enfatiza três verdades vitais aqui.
Em primeiro lugar, o verdadeiro crente nasce da Palavra de Deus (1.18). A Palavra de Deus é a divina semente. Quando ela é aplicada em nosso coração pelo Espírito Santo, acontece o milagre do novo nascimento. Nascemos, assim, de cima, de Deus, do Espírito. Recebemos, portanto, uma nova natureza, uma nova vida.
Em segundo lugar, o verdadeiro crente acolhe a Palavra (1.21). Há uma preparação própria para receber a Palavra: “Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal...”. A Palavra de Deus é comparada a uma semente, e o coração do homem, a um solo. Antes de lançarmos a semente precisamos preparar a terra. Jesus falou de quatro tipos de solo: o solo endurecido, o superficial, o congestionado e o frutífero (Mt 13.1-23). Antes de acolhermos a Palavra, precisamos remover a erva daninha da impureza e da maldade. Também é requerida uma atitude correta para receber a Palavra: “... recebei com mansidão a palavra em vós implantada...” A mansidão é o oposto da ira (1.19). E necessário adubar o terreno para que a semente frutifique. A Palavra deve ter raízes profundas em nossa vida. Aceitamos de bom grado a transformação que Deus opera em nós através da Palavra. Tiago fala ainda acerca do resultado da recepção da Palavra: “... a qual é poderosa para salvar as vossas almas”. Quando nascemos da Palavra, ouvimos a Palavra, recebemos a Palavra e praticamos a Palavra, podemos ter garantia da salvação.
Em terceiro lugar, o verdadeiro crente pratica a Palavra (1.22-25). Não basta ouvir ou ler a Palavra, é preciso praticá-la. Não basta apenas o conhecimento da verdade, é necessário também a prática da verdade. Muitos crentes marcam sua Bíblia, mas a Bíblia não os marca.^° Há grandes benefícios em se praticar a Palavra.
Primeiro, quem pratica a Palavra conhece a si mesmo (1.23,24). A Palavra aqui é comparada não com a semente, mas com o espelho. O principal propósito do espelho é o autoexame. Quando você olha para dentro da Palavra e compreende o que ela diz, você conhece a você mesmo: seus pecados, suas necessidades, seus deveres e suas recompensas. Ninguém olha no espelho e logo vai embora sem fazer nada. Você olha no espelho para saber se já penteou o cabelo, se já lavou o rosto ou se a roupa está bem passada. Você olha no espelho para ver as coisas como elas são. Quando você olha no espelho, você descobre que tipo de pessoa você é e como você está.
Há alguns perigos quanto ao espelho que precisamos evitar: devemos evitar olhar apenas de relance no espelho.
Muitas pessoas não estudam a si mesmas quando leem a Bíblia. Muitas pessoas leem a Bíblia todo dia, mas não são lidas por ela, não a observam. Muitos leem por um desencargo de consciência, mas não se afligem por não colocar sua mensagem em prática. Há sempre o perigo de você se ver no espelho e não fazer nada a respeito. Leia esta história:
Conta-se a história de um homem idoso basta-me míope, que tinha grande orgulho em atuar como crítico de arte. Um dia, ele visitou um museu com alguns amigos e, imediatamente. Como saber se minha religião é verdadeira começou a fazer suas críticas sobre vários quadros. Parando diante de um quadro de corpo inteiro, começou a dar a sua opinião. Ele havia deixado seus óculos em casa e não podia ver a pintura com clareza. Com ar de superioridade, ele comentou; ‘A constituição física desse modelo está simplesmente em desacordo com a pintura. O sujeito (um homem) é bastante rústico e está miseravelmente vestido. De fato, ele é repulsivo, e foi um grande erro para o artista selecionar esse modelo de segunda classe para pintar o seu retrato’. O velho camarada foi seguindo em seu caminho, quando sua esposa o puxou para o lado e sussurrou em seu ouvido: ‘Querido, você estava se olhando no espelho’.
Devemos tomar cuidado para não esquecermos o que vemos no espelho. Muitas vezes lemos a Bíblia tão distraidamente que nem conseguimos ver quem nós somos, como está a nossa aparência. Não temos convicção de pecado.
Não sentimos sede de Deus. Não falamos como Isaías: “Ai de mim!”. Não falamos como Pedro; “Senhor, aparta-te de mim, porque eu sou um pecador”. Não falamos como Jó: “Eu me abomino no pó e na cinza”. Devemos nos acautelar para não fracassarmos em fazer o que o espelho mostra. Não basta ler a Bíblia, é preciso praticá-la. Não basta falar, é preciso fazer. Reunimo-nos muito para conhecer e pouco para praticar. Gastamos os assentos dos bancos e pouco as solas dos sapatos.
LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. pag. 32-34.
Tg 1.22 Apenas 1er ou até mesmo estudar a Palavra de Deus não é benéfico para nós, se não cumprirmos o que ela diz. Nós ouvimos a Palavra de Deus não apenas para conhecê-la, mas também para realizá-la. Nós estaríamos nos enganando se nos felicitássemos pelo conhecimento das Escrituras e não houvesse nada além disto. O conhecimento valioso é um prelúdio à ação; a Palavra de Deus só consegue crescer no solo da obediência.
Para que uma lição faça a diferença na vida de um aluno, ela precisa penetrar no coração e na mente, afetando a sua vida. É importante ouvir a Palavra de Deus, mas é muito mais importante obedecê-la. Nós podemos avaliar a eficiência do nosso tempo de estudo da Bíblia pelo efeito que ele tem no nosso comportamento e nas nossas atitudes. Será que colocamos em prática aquilo que estudamos?
Tg 1.23,24 Algumas pessoas leem a Palavra de Deus de uma forma casual, sem permitir que ela afete as suas vidas. É como a pessoa que olha tão rapidamente no espelho, que as imperfeições não são detectadas e nada é mudado. Elas ouvem, mas não agem. A outra abordagem é o olhar atento, o estudo profundo e constante da Palavra de Deus, que permite que uma pessoa veja as imperfeições e modifique a sua vida de acordo com os padrões de Deus. O tipo de “espelho” que a Palavra de Deus fornece é exclusivo. Ele nos mostra a nossa natureza interior da mesma maneira como um espelho normal nos mostra as nossas características externas. Os dois espelhos refletem o que está ali. Quando a Palavra de Deus nos mostra que algo em nós precisa de correção, nós devemos ouvir e agir.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 668-669.
Tg1.22 1 – “Sede, porém, praticantes da palavra”: o ouvir não pode ser apenas questão dos ouvidos, de nosso pensar e de nosso sentir. A palavra, pela qual é depositada em nós a nova vida, visa tomar forma em nossa vida toda. A palavra propicia ambas as coisas: promessa e orientação, asserção e demanda. Ela proclama e traz o agir misericordioso de Deus em nosso favor, e visa impelir-nos ao agir. Nosso agir é resposta ao agir de Deus. Deus não quer atuar apenas em nós, mas também através de nós. Jesus nos descreveu Deus como aquele que age (Jo 5.17), como o Deus que faz história para a salvação, nossa e de todos os seres humanos. Dessa maneira o Deus vivo se diferencia p.ex. dos deuses gregos, bem como das ideias dos filósofos (e igualmente do Deus de uma teologia que se deixa condicionar pela respectiva filosofia contemporânea). A história que Deus faz viabiliza, de fato, verdadeira história humana. O ser humano que deseja acolher a palavra de Deus somente em seu pensamento ou sentimento não a compreendeu corretamente, tornando-se retardatário desobediente quando o Deus que age deseja envolver também a ele. A palavra de Deus é palavra do Senhor, a qual nos compromete. Com sua afirmação Tiago está junto de seu Senhor na doutrina (Mt 7.21,24-27) e se move nas mesmas balizas do apóstolo Paulo (Rm 6.1,15).
“Não apenas ouvinte”: não basta o constante “colocar-se sob a palavra”. É necessário obedecer à palavra. Em contraposição, há hoje motivos para enfatizar que não existe prática correta da vontade de Deus sem o devido ouvir prévio. Aqui nos são dadas orientação e força para esse agir.
“Do contrário enganais a vós mesmos”: a) Aquele que apenas ouve visa enganar a Deus: aparenta interessar-se pela vontade de Deus, mas não se deixa mover para a obediência (também entre pessoas constitui ofensa quando alguém aparentemente se interessa por nossa questão, solicitando que lhe seja exposta largamente, mas depois se afasta sem mexer um dedo sequer). b) Assim uma pessoa também engana seus semelhantes: “correndo” aos cultos, estudos bíblicos, horas de comunhão (e também pelo linguajar cristão), causando em seu entorno a expectativa de que aqui alguém agirá como cristão. Depois percebem que foram enganados. A “baixa audiência” de que os crentes tantas vezes desfrutam em seu entorno pode ser derivada dessa desilusão. c) Não por último, porém – é disso que Tiago está falando – desse modo uma pessoa também engana a si mesma: tranquiliza-se e pensa que, desde que seja insaciável em ouvir a palavra e ler intensamente a Bíblia, tudo estaria bem, e também outros o consideram um cristão favorecido (Ap 3.1). Contudo Jesus diz que o ouvir e saber ainda não resolvem nada (Mt 7.26). Tampouco o falar resolve (Mt 7.21). O conhecimento claro até mesmo pode tornar-se uma acusação para quem não vive de acordo (Lc 12.47).
2 – Nesse agir está em jogo não apenas o que fazemos a outros, mas o que fazemos a nós para nossa própria evolução. É o que mostram os v. 23-25.
Tg 1.23 “Se alguém é (apenas) ouvinte da palavra e não (também) praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural”: aquele que ouve a palavra de Deus é como alguém que se observa no espelho. Entre as duas capas de nossa Bíblia nos são mostrados o “diagnóstico” e a “terapia” de Deus após a catástrofe do pecado em relação a cada indivíduo e à humanidade como um todo.
a) A pessoa, pois, que atenta para a palavra de Deus, ouve primeiramente o diagnóstico divino. Vê a si mesma com toda a clareza e verdade, como em um espelho, por assim dizer. O espelho não lisonjeia. Vemos o quanto nos sujamos por meio do pecado. O ser humano natural prefere nem sequer observar-se nesse espelho. Esse é um motivo central para o fato de que se “interessa” por tudo o mais, mas de forma alguma pela palavra de Deus. No entanto, já que não consegue nem quer submeter-se integralmente à palavra, tenta distanciar-se dela e “esquecê-la” o quanto antes, para poder continuar como era (o ser humano esquece o que deseja esquecer).
Tg 1.24 “Pois, após contemplar-se e se retirar, logo se esquece de como era a sua aparência.” É como quando uma dona de casa percebe no espelho que, ao acender o fogão a lenha, sujou o rosto com a mão fuliginosa, mas não limpa de imediato a sujeira porque não tira o devido tempo para isso. Mais tarde se esquece do que não está em ordem com ela. Quando sai para fazer comprar, admira-se de que as pessoas riem ao vê-la. O mesmo ocorre quando o espelho da palavra nos leva a constatar um erro em nós mesmos e não tomamos imediatamente as atitudes cabíveis. Nesse caso o espelho da palavra de Deus não nos prestou o serviço que poderia ter prestado para a hora em que haveremos de comparecer perante Deus. Então, muitas coisas boas que ouvimos, e até mesmo dissemos, hão de transformar-se em acusação contra nós.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Persevere ouvindo e agindo (v.25).
Tg 1.25 As pessoas que atentam são aquelas que estudam a lei de Deus com séria atenção e, a seguir, a escolhem como o seu estilo de vida. Elas estudam com atenção extasiada, e não apenas uma vez, mas continuamente; como resultado, elas se lembram da Palavra de Deus e a colocam em prática. Esta lei é perfeita, não é possível melhorá-la.
Esta lei dá liberdade, porque é somente obedecendo à lei de Deus que a verdadeira liberdade pode ser encontrada (compare com Jo 8.31,32). Como cristãos, nós somos salvos pela graça de Deus, e a salvação nos liberta do controle do pecado. Como crentes, nós somos livres para viver como Deus nos criou para viver. Naturalmente, isto não quer dizer que somos livres para fazer o que quisermos (1 Pe 2.16) - agora nós somos livres para obedecer a Deus.
A pessoa que atenta para a Palavra de Deus, faz o que ela diz, não esquece o que ouviu e obedece será bem-aventurada.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 669.
Tg 1:25 Este é exatamente o tipo de passagens que tanto desgostava a Lutero na Epístola de Tiago. O reformador alemão se contrariava extremamente com a ideia de Lei e, junto com Paulo, teria dito "o fim da Lei é Cristo" (Romanos 10:4). "Tiago — comenta Lutero — nos conduz à Lei e às obras."
Entretanto, para além de toda dúvida há um sentido em que Tiago tem razão. No cristianismo há uma demanda ética; há uma lei do viver que os cristãos têm que entender, aceitar e tratar de pôr em prática. Esta lei encontra-se primeiro nos Dez Mandamentos, e depois em todos os ensinos éticos de Jesus.
Tiago chama esta lei de duas maneiras:
(1) Chama-a a lei perfeita. Existem três razões pelas que essa lei é perfeita.
(a) É lei de Deus, dada e revelada por Deus. O estilo de vida que Jesus estabeleceu para seus seguidores é o estilo de vida que concorda com a vontade de Deus.
(b) É perfeita porque não pode ser melhorada. A lei cristã é a lei do amor, e a demanda de amor nunca pode ser satisfeita. Sabemos bem, quando amamos a alguém, que ainda que lhe déssemos todo o mundo, e ainda que lhe servíssemos toda a vida, mesmo assim não poderíamos satisfazer ou merecer seu amor. A lei cristã é perfeita porque não pode haver lei superior à lei do amor.
(c) Mas há ainda outro sentido no qual a lei cristã é perfeita. Teleios é a palavra que em nossa versão foi traduzida como perfeita, e teleios quase sempre descreve a perfeição para uma determinada finalidade. É perfeição com algum propósito e uso determinados. Agora, se a pessoa obedecer a lei de Cristo, compreenderá o propósito de sua condição de homem; cumprirá o propósito pelo qual Deus o pôs no mundo, será a classe de pessoa que deve ser, fará no mundo a contribuição que deve fazer. Será perfeito no sentido de que, obedecendo a lei de Deus, cumprirá o propósito para o qual foi enviado a este mundo.
(2) Chama-a também lei da liberdade. Quer dizer: uma lei que ao cumpri-la o indivíduo encontra sua verdadeira liberdade. Todos os grandes homens estiveram de acordo em que unicamente obedecendo a lei de Deus pode o ser humano tornar-se autenticamente livre. "Obedecer a Deus é ser livre", disse Sêneca. "Somente o sábio é livre, e tudo néscio é um escravo", afirmavam os estóicos. Filo expressou: "Todos aqueles que estão sob a tirania do ódio, do desejo ou de qualquer outra paixão são totalmente escravos; mas todos os que vivem com a 1ey são livres." Na medida em que o homem não obedece a não ser as paixões, emoções e desejos não é outra coisa senão um escravo. Quando o homem aceita a vontade de Deus é quando também se torna realmente livre, porque então fica livre para ser bom, livre para ser o que deve ser. Servir a Deus é desfrutar de liberdade perfeita, e no fazer a vontade divina está nossa paz.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Tiago. pag. 71-73.
Tg 1.25 “Mas aquele que contemplou a lei perfeita da liberdade…” (também é possível traduzir: “Quem observa com precisão, inclinando-se para frente, a lei da liberdade…” Lutero traduz: “Quem, porém, esquadrinha a lei perfeita da liberdade…”): sob a influência do pecado tornamo-nos pessoas amarradas, e pela ação de nosso Senhor tornamo-nos livres (Jo 8.34,36). Essa é a norma de uma vida com nosso Senhor, a maravilhosa norma da verdadeira liberdade: tornamo-nos livres de pecado, do mundo e do diabo e ficamos amarrados ao Senhor. Estar fixos em Deus e em sua vontade constitui a verdadeira liberdade para nós. Consequentemente somos também livres em relação às pessoas e, a partir de nosso Senhor, livres para as pessoas.
“E nela persevera”: é preciso viver voltado para o Senhor, também em meio a pessoas com as quais partilhamos orações, e, cônscio da presença dele, “direcionado para ele em pureza” (G. Tersteegen), permanecer na obediência, constantemente ligado a ele e, consequentemente, em verdadeira liberdade.
“Esse será bem-aventurado no que realizar”: será bem-aventurado na eternidade, mas também desde já! Viver, pois, na comunhão com o Senhor, na consciência de que está conosco, voltado para ele e a serviço dele (cf. Cl 3.23), isso constitui uma felicidade indestrutível, uma vida plena de sentido, até mesmo neste mundo, até mesmo em sofrimentos. “Tempo e hora, que me importa: estou na eternidade, vivendo em Jesus” (August Hermann Francke).
3 – Na sequência é acrescentada uma palavra fundamental sobre o “culto a Deus” que abrange nossa vida (essa palavra define simultaneamente a ideia implícita anteriormente no “agir” dos cristãos), ou – como também se pode traduzir – nossa “veneração a Deus”, i. é, toda a nossa vida como cristãos.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
III - A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
1. A falsa religiosidade.
A palavra “religião” vem do latim “religare”, e traz a ideia de religar o homem a Deus. Religião pode ser considerada resumidamente como um conjunto de práticas que os fiéis realizam, dentro de seus cultos.
Tiago fala da religião pura e verdadeira em contraposição à religião falsa. Salvo melhor juízo, esse texto de Tiago não nos parece indicar uma contraposição apologética contra outras formas de manifestações religiosas não cristãs, como as outras religiões que o mundo possuía na época. Ao que parece, Tiago está associando, dentro da comunidade cristã, a verdadeira religião com práticas adequadas, e mostrando que a fé verdadeira está associada não apenas à fé, mas com o que fazemos para espelhar nossa fé.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 25.
Tg 1.26 A lei perfeita de Deus deveria ser posta em prática nas nossas palavras. Aqui Tiago introduz dois temas importantes que ele irá comentar detalhadamente mais adiante: o uso da língua (3.1-12) e o tratamento das pessoas menos favorecidas (por toda a carta). Saber como falar bem - como é o caso de um grande professor - não é, de maneira nenhuma, tão importante como ter o controle das próprias palavras: saber o que dizer, e quando, e onde dizé-lo. Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã. A maneira pela qual os outros saberão se a nossa fé é ou náo real é pelas coisas que decidimos falar e pela maneira como falamos. Tiago irá comentar isto um pouco mais no capítulo 3. Ter práticas religiosas que não levam a um modo de vida ético é enganar-se a si mesmo. Até mesmo as nossas práticas religiosas exteriores são inúteis sem a obediência. E não podemos ser obedientes se não pudermos controlas as nossas bocas, Tiago não especifica como a língua ofende, mas podemos imaginar uma série de maneiras pelas quais a nossa língua desonra a Deus - mexericos, explosões de ira, críticas duras, reclamações, julgamentos. As nossas ações verbais falam mais alto do que os nossos rituais religiosos. Fingir sermos religiosos e convencer-nos de que somos não é apenas enganar os outros, é também enganar-nos a nós mesmos mortalmente. A conversão não tem significado a menos que ela leve a uma vida transformada. Uma vida transformada não leva a lugar nenhum, a menos que sirva aos outros.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 669.
Tg 1.26 Se alguém cuida ser religioso... Noutras palavras, será que determinado crente se julga um bom cristão, muito piedoso? A ênfase está no desempenho religioso, e provavelmente inclui atos de culto como a oração, o jejum e o dízimo. Tiago não condena tais atividades, mas acrescenta o seguinte: e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a sua religião é vã. Noutras palavras, as práticas religiosas são ótimas, mas, se não vierem acompanhadas de um modo de viver ético, nada valem, são menos do que inúteis, porque se (Tiago 1:1-27) transformam em auto-enganos. O interesse específico de Tiago é o controle da língua, que é sua maneira de referir-se ao controle do palavrório irado, das explosões de raiva, da crítica ferina e das queixas (cf. 1:19; 3:1,13; 4:11-12; e 5:9). O criticismo, o julgamento e o queixume impiedosos revelam corações ainda não submetidos ao mandamento de Cristo. Trata-se de pessoas cujas práticas religiosas exteriores, conquanto cristãs, são tão salvíficas quanto a idolatria (i.e., nulas), recebendo ainda a alcunha de práticas vãs nas Escrituras (Atos 14:15; 1 Coríntios 3:20; 1 Pedro 1:18). Tiago, à semelhança de Jesus (Marcos 12:28-34; João 13:34) e os profetas (Oséias 6:6; Isaías 1:1-10; Jeremias 7:21-28), desmascaram sem piedade esse auto-engano, de modo tal que seus leitores podem reconhecer sua verdadeira condição antes que seja tarde demais.
Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 60-61.
Tg 1.26 a) O que destrói nosso culto a Deus. “Se alguém pensa que serve a Deus, deixando de refrear a língua, mas pelo contrário enganando seu coração, seu culto a Deus é vão.” Em última análise não podemos fabricar essa vida por meio do culto. Ela é obra do Espírito Santo, do “Cristo em nós”. Mas podemos perturbá-lo e destruir sua obra. Então esse culto é “vão”, um nada, “vazio”. Por mais que a engrenagem gire em nossa vida, por mais que sejamos pessoas atarefadas no reino de Deus – tudo isso não passa de rodar em ponto morto quando damos vazão à natureza carnal natural, que desagrada a Deus, quando de alguma maneira permitimos que o diabo enfie o pé na fresta da porta. Onde penetra um espírito falso, o Espírito de Deus se retira (“Ele concede o Espírito aos que lhe são obedientes” – At 5.32.) Na sequência Tiago nos diz que nosso falar é um ponto de entrada para esse
espírito falso muito pouco considerado. Levamos a sério nosso agir, mas bem menos nossas palavras. Quantas coisas são ditas ou (o que não é menos negativo) sugeridas em conversas, mesmo depois daquilo que chamamos de “culto a Deus”, e quanta inveja, ciúme e desprezo estão por trás disso! No cap. 3 Tiago nos trará pormenores acerca dessa questão.
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
2. A verdadeira religião (v.27).
Aqui há uma expressão que deve nos chamar a atenção: “A religião pura e imaculada para com Deus...”. O conceito de religião está mais atrelado à ideia de espiritualidade demonstrada dentro de uma comunidade. Tiago, em contraposição, mostra que Deus se vincula às nossas práticas de amor e misericórdia para com pessoas que estão à margem da sociedade: órfãos e viúvas nas suas tribulações.
Tiago apresenta uma realidade que está vinculada à prática da verdadeira religião: cuidar daqueles que nos estão próximos. A família, ou membros dela, deveriam ser assistidos sempre. De acordo com Henry Daniel-Rops,
Os ensinamentos dos rabinos enfatizavam a ideia de que “não cuidar do irmão” era de fato agir como Caim, e elogiavam o exemplo de José, que perdoou os irmãos perversos que tentaram matá-lo, e ao se tornar governador do Faraó, recebeu-os bem e estabeleceu-os na terra de Gósen. Era assim que se comportava o verdadeiro israelita.
A orfandade ocorria quando um dos membros da família com responsabilidade de ser o provedor morria, deixando seus dependentes desassistidos. Filhos sem pais estariam à mercê de tribulações não apenas financeiras, mas também relacionadas à fé.
A viuvez, como também a orfandade, era advinda igualmente da morte, mas de um dos cônjuges. De acordo com o texto, Tiago não cita viúvos, e sim viúvas. Claro que um homem poderia ficar viúvo, mas não há indicações de que ele deveria ser ajudado da mesma forma que a viúva pela igreja. Isso não significa que um viúvo não devesse ser ajudado, pois a perda de um cônjuge tem efeitos dolorosos no cônjuge sobrevivente. Entretanto, de forma geral, as mulheres geralmente cuidavam da casa e da educação dos filhos, enquanto o homem deveria ser o provedor das necessidades advindas do lar. Uma vez que a morte recolhia o provedor, não raro a viúva ficava desassistida, caso seus filhos não tivessem a idade para se unirem e manterem sua mãe.
Uma viúva não poderia trabalhar nem mesmo ter herança, pois esta ia para o filho mais velho da família. Se não houvesse socorro dentro de casa, as viúvas acabariam mendigando ou se vendendo como escravas.
Nesses dois casos, como vimos, os fatores em comum são a morte e as tribulações advindas dela. Um exemplo clássico no Antigo Testamento é o caso da viúva de um profeta nos dias de Eliseu. O esposo dessa mulher frequentava a escola de profetas, mas faleceu e deixou dívidas que precisavam ser quitadas. Como a mulher não tinha bens para adimplir as obrigações contraídas pelo seu esposo, os credores lhe bateram à porta para serem ressarcidos ou levariam os filhos daquele casamento. Aquelas duas crianças órfãs de pai seriam escravas dos credores. A situação era de fato terrível. Não bastava que as crianças fossem privadas do convívio e do exemplo de seu pai. Eles deveriam sair de casa e se tornarem escravos e isso deixou a mãe apavorada. Mas havia um profeta em Israel, e essa mãe foi falar com o servo de Deus.
O profeta Eliseu orientou a viúva a que se provesse de vasos para colocar azeite. O líquido, por mais que de pouco valor agregado em relação a custo, seria multiplicado e deveria ser vendido para pagar a dívida e permitir que a família vivesse do que sobrou (Eliseu não diz que a mulher deveria pegar os recursos adquiridos com a venda do azeite e fugir da cidade para evitar quitar o compromisso, e Deus honrou aquela mulher porque ela entendeu que deveria pagar a dívida contraída pelo seu falecido marido).
Deus não se esquece dos órfãos e viúvas, e ordena que os cristãos façam o mesmo, ou seja, que sejam usados por Deus cuidando dessas pessoas. Acima de tudo, o desafio é que a igreja hoje exerça a misericórdia para com as pessoas que justamente não podem retribuir na mesma medida de bondade. Isso mostra não apenas a prática da sabedoria, mas também a concretização daquilo que Deus deseja de nós.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 65-67.
Tg 1.27 De uma religião que é capaz de argumentar facilmente a favor de qualquer comportamento, Tiago agora se volta para um relacionamento no qual Deus pode ditar os termos de comportamento - a religião pura e imaculada. Tiago explica a religião em termos de um serviço prático e de pureza pessoal. Os rituais realizados com reverência não são errados; mas, se uma pessoa se recusa a obedecer a Deus na sua vida diária, a sua “religião” não é aceita por Deus.
A religião pura e imaculada não é a observância perfeita de regras; na verdade, é um espírito que se infiltra nos nossos corações e nas nossas vidas (Lv 19.18; Is 1.16,17). Assim como Jesus, Tiago explica a religião em termos de uma fé interior vital, que se expressa na nossa vida cotidiana. O nosso comportamento deve estar de acordo com a nossa fé (1 Co 5.8). Órfãos e viúvas são frequentemente mencionados nas preocupações da igreja primitiva, porque eles eram os mais obviamente “pobres” na Israel do século I. As viúvas, por não terem acesso às heranças na sociedade judaica, estavam praticamente à margem da sociedade. Por esta razão, Paulo teve que organizar um procedimento completo a respeito das viúvas em suas próprias igrejas, como se vê em 1 Timóteo 5. As viúvas não podiam ter empregos, e as suas heranças iam para os seus filhos primogênitos. Era de se esperar que as viúvas fossem sustentadas pelas suas próprias famílias, de modo que os judeus as deixavam com pouquíssimo sustento econômico. A menos que um membro da família estivesse disposto a cuidar delas, elas se viam reduzidas a mendigar, se venderem como escravas, ou passar fome. Ao cuidar destas pessoas desamparadas, a igreja colocava em prática a Palavra de Deus. Quando doamos sem esperança de receber algo em troca, nós mostramos o que significa servir aos outros.
Ainda hoje, a presença de viúvas e órfãos nas nossas comunidades e cidades torna esta orientação de Tiago muito contemporânea. A este grupo, nós também podemos acrescentar aquelas pessoas que realmente se tornaram viúvas e órfãos através da destruição das famílias pelo divórcio. Estas pessoas têm vidas complicadas. As necessidades sempre ameaçam superar os nossos recursos humanos. Cuidar de pessoas magoadas é um trabalho estressante. Ainda assim, nós somos convocados para nos envolver.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 669-670.
27. Precisamos ter em mente que Tiago não está tentando aqui resumir tudo o que envolve a verdadeira adoração a Deus. Segundo Calvino, “ele não dá uma definição geral de religião, mas nos lembra de que a religião sem as coisas que ele menciona é nada...”.10 ritual religioso, se praticado com um coração reverente e num espírito de adoração, não é errado — e a Palavra de Deus não pode ser “praticada” se primeiro não for “ouvida”. Mas Tiago está preocupado com uma super-ênfase no “ouvir”, em detrimento da “prática”. Neste versículo são apresentadas duas outras áreas da vida que devem revelar evidências de nosso “ouvir” reverente da Palavra: preocupação social e pureza moral. O cuidado pelos órfãos e as viúvas é uma ordem do Antigo Testamento como uma forma de imitar o cuidado do próprio Deus com estas pessoas — ele é o “pai dos órfãos e defensor das viúvas” (SI 68.5; PIB). Num texto que apresenta muitas semelhanças com esta passagem de Tiago, Isaías anuncia que Deus não mais irá aceitar a adoração que seu povo lhe oferece (a “religião” deles); eles precisam “se lavar... aprender a fazer o bem; atender à justiça, repreender o opressor; defender o direito do órfão, pleitear a causa das viúvas” (Is 1.10-17). O órfão e a viúva tornam-se tipos daqueles que se encontram desamparados neste mundo. Os cristãos que professam uma religião pura irão imitar seu Pai, intervindo para ajudar os desamparados. Aqueles que passam necessidade no Terceiro Mundo, nas cidades; aqueles que estão desempregados e sem dinheiro; aqueles que são precariamente representados no governo ou na justiça — estas são as pessoas que deveriam ver abundantes evidências da “religião pura” dos cristãos.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 86.
Tg 1.27 b) O que faz parte do culto a Deus. “Um culto puro e imaculado perante Deus, o Pai, consiste em visitar órfãos e viúvas em sua aflição e manter a si próprio incontaminado do mundo”: Deus nos presenteou com seu grande amor, dando-nos seu Filho unigênito como irmão e tornando-se assim pessoalmente nosso Pai e a nós, seus filhos (Rm 5.8; 1Jo 3.1). Agora tudo depende de que nós lhe agrademos, como o Filho primogênito de Deus (Mt 3.17). Duas coisas são citadas aqui como partes integrantes do verdadeiro culto a Deus: dirigir-se para dentro do mundo e preservar-se diante do mundo.
b.1 - “Visitar órfãos e viúvas em sua aflição”: Tiago cita pessoas que naquele tempo eram especialmente carentes de ajuda, bem como de proteção jurídica. Literalmente consta: “olhar por eles”. Isso inclui o cuidado assistencial. Primeiramente ele tinha em mente os co-cristãos na igreja, mas de forma alguma somente a eles (Gl 6.10). É condizente com a intenção de nosso Senhor e vale como dirigido a ele, quando nos dedicamos com toda energia, amor e fantasia às pessoas em torno de nós, perto e longe, em vista de suas mais diversas carências (Mt 25.45; 18.5).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.
3. Guardando-se da corrupção (v.27)
Além de visitar órfãos e viúvas nas suas necessidades, é preciso que nos resguardemos da corrupção do mundo. E possível que uma pessoa corrupta faça atos de caridade em prol dos mais desassistidos? Sim. Mas aos olhos de Deus, guardar-se do sistema deste mundo e de suas tendências corruptas faz parte da demonstração da verdadeira religião aos olhos de Deus. A corrupção do mundo pode contaminar nossos corações, e por isso devemos ficar distantes dela.
Assim, é a fé que agrada a Deus. Mais que cerimônias, Deus quer de nós atitudes.
Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 67-68.
Além disto, aqueles que têm uma religião pura e imaculada se guardarão da corrupção do mundo. Para nos protegermos da corrupção do mundo, precisamos nos comprometer com o sistema ético e moral de Cristo, e não com o do mundo. Não devemos nos adaptar ao sistema de valores do mundo, baseado no dinheiro, no poder, e no prazer. A verdadeira fé não significa nada se estivermos contaminados com estes valores. Tiago estava simplesmente ecoando as palavras do Senhor Jesus em sua oração que é chamada “oração sumo sacerdotal” (Jo 17), em que Jesus enfatizou que estava enviando os seus discípulos ao mundo, mas esperando que eles não fossem do mundo.
A medida que nos colocamos à disposição para servir a Cristo no mundo, precisamos nos colocar continuamente sob a proteção desta oração. A oração afirma duas coisas importantes: (1) nós permanecemos no mundo porque este é o local onde Cristo quer que estejamos; e (2) nós teremos a proteção de Deus.
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 670.
Tg 127b A pureza moral é outra marca da religião pura. O guardar-se incontaminado do mundo significa evitar que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos cerca. Tal sociedade reflete amplamente crenças e práticas não-cristãs ou, quem sabe, ativamente anticristãs. O cristão que vive “no mundo” corre o constante perigo de ter sobre si a mácula do sistema. É importante e instrutivo o fato de Tiago incluir esta última área, pois ela penetra além da ação, chegando às atitudes e crenças das quais a ação brota. A “religião pura” do “cristão perfeito” (v. 4) associa a pureza de coração à pureza de ação.
Douglas J. Moo. Tiago. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 86.
Tg 1.27b.2 - “E manter a si próprio incontaminado do mundo.” É correto atuar no mundo, mas não se sujar e infeccionar com ele. O Israel do AT foi encorajado repetidamente a não se contaminar com os ídolos das nações em seu redor, ou seja, a não acolhê-los (Jr 2.7; 7.30s; 32.34; Ez 5.11; 20.7,30; 22.3; 37.23; etc.). Também nós podemos, quando entramos no mundo e nos relacionamos com ele – algo necessário – contaminar-nos com os ídolos que predominam em nosso entorno e adotá-los junto com seus parâmetros e seu espírito. Por exemplo, a mentalidade carreirista, o espírito reivindicatório, a indiferença em relação a Deus e às pessoas, o estresse desnecessário que leva as pessoas a se refugiarem da meditação e no silêncio, a adaptação ao espírito da época no pensar, no trabalho e no lazer, a indisciplina, o espírito de desrespeito e de rebeldia para com pessoas e Deus, a adoção de uma ideologia que reivindica domínio absoluto sobre o ser humano e o domina em todas as esferas da vida. Em nossa época se exige muitas vezes que cristãos não se distingam em nada do mundo, que a igreja de Cristo se dissolva na sociedade com seu serviço e suas tarefas. O espírito do anticristo (2Ts 2.3-12; Ap 13), o espírito da “meretriz” (Ap 17) tentam nos igualar, como cristãos, com todo o mundo. Nesse caso a única solução é que permaneçamos “nele”, i é, em contato com ele, em diálogo com ele, dando-lhe atenção, falando com ele, obedecendo-lhe, seguindo-o. Então ele sempre ficará entre nós e o mundo, cujas forças demoníacas tentam se apoderar de nós. “Cristo, em ti somente, estou seguro em corpo e mente” (cf. Zc 2.9; Pv 18.10).
Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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